Textos sobre HĂĄbitos de MarquĂȘs de Vauvenargues

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Textos de hĂĄbitos de MarquĂȘs de Vauvenargues. Leia este e outros textos de MarquĂȘs de Vauvenargues em Poetris.

ConsideraçÔes Sobre a Amizade

É a insuficiĂȘncia do nosso ser que faz nascer a amizade, e Ă© a insuficiĂȘncia da prĂłpria amizade que a faz perecer. EstĂĄ-se sozinho, sente-se a prĂłpria misĂ©ria, sente-se necessidade de apoio, procura-se quem lhe favoreça os gostos, um companheiro nos prazeres e nos pesares; quer-se um homem de quem se possa possuir o coração e o pensamento. EntĂŁo a amizade parece ser o que de mais doce hĂĄ no mundo; tem-se o que se desejou, logo se muda de ideia. Quando se vĂȘ de longe algum bem, ele fixa de inĂ­cio os nossos desejos, e quando se chega a ele, sente-se o seu nada. A nossa alma, de que ele prendia a vista na distĂąncia, nĂŁo pode repousar-se nele quando vĂȘ mais adiante: assim a amizade, que de longe limitava todas as nossas pretensĂ”es, cessa de limitĂĄ-las de perto; nĂŁo preenche o vazio que prometera preencher; deixa-nos necessidades que nos distraem e nos levam a outros bens.
EntĂŁo a gente torna-se negligente, difĂ­cil, exige-se logo como um tributo as complacĂȘncias que de inĂ­cio eram recebidas como um dom. É do carĂĄcter dos homens apropriar-se a pouco e pouco atĂ© das graças de que beneficiam; uma longa posse acostuma-os naturalmente a olhar as coisas que possuem como sendo deles;

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Nada Vence as PaixÔes Profundas de Cada Um

As paixĂ”es opĂ”em-se Ă s paixĂ”es, e podem servir de contrapeso umas Ă s outras; mas a paixĂŁo dominante nĂŁo se pode conduzir senĂŁo pelo seu prĂłprio interesse, real ou imaginĂĄrio, porque ela reina despoticamente sobre a vontade, sem a qual nada se pode. Contemplo humanamente as coisas, e acrescento nes­se espĂ­rito: nem todo o alimento Ă© prĂłprio para todos os cor­pos; nem todos os objetos sĂŁo suficientes para tocar deter­minadas almas. Quem acredita serem os homens ĂĄrbitros soberanos dos seus sentimentos nĂŁo conhece a natureza; consiga-se que um surdo se divirta com os sons encantado­res de Mureti, peça-se a uma jogadora, que estĂĄ a jogar uma grande partida, que tenha a complacĂȘncia e a sabedo­ria de se enfadar durante a mesma, nenhuma arte pode fazĂȘ-lo.
Os sĂĄbios enganam-se quando oferecem a paz Ă s paixĂ”es: as paixĂ”es sĂŁo inimigas dela. Eles elogiam a mo­deração para aqueles que nasceram para a acção e para uma vida agitada; que importa a um homem doente a delicadeza de um festim que lhe repugna? NĂłs nĂŁo conhecemos os defeitos de nossa alma; mas ainda que pudĂ©ssemos conhecĂȘ-los, raramente haverĂ­a­mos de os querer vencer.
As nossas paixÔes não são distintas de nós mesmos; al­gumas delas são todo o fundamento e toda a substùncia da nossa alma.

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