Textos sobre JuĂ­zo de Gustave Le Bon

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Textos de juĂ­zo de Gustave Le Bon. Leia este e outros textos de Gustave Le Bon em Poetris.

Mediocridade de EspĂ­rito

O nosso mĂĄximo esforço de independĂȘncia consiste em opor, por vezes, um pouco de resistĂȘncia Ă s sugestĂ”es quotidianas. A grande massa humana nenhuma resistĂȘncia opĂ”e e segue as crenças, as opiniĂ”es e os preconceitos do seu grupo. Ela obedece-lhe sem ter mais consciĂȘncia do que a folha seca arrastada pelo vento.
SĂł numa elite muito restrita se observa a faculdade de possuir, algumas vezes, opiniĂ”es pessoais. Todos os progressos da civilização procedem, evidentemente, desses espĂ­ritos superiores, mas nĂŁo se pode desejar a sua multiplicação sucessiva. Inapta a adaptar-se imediatamente a progressos rĂĄpidos e profundos em demasia, uma sociedade tornar-se-ia logo anĂĄrquica. A estabilidade necessĂĄria Ă  sua existĂȘncia Ă© precisamente estabelecida graças ao grupo compacto dos espĂ­ritos lentos e medĂ­ocres, governados por influĂȘncias de tradiçÔes e de meio.
É, portanto, Ăștil para uma sociedade que ela se componha de uma maioria de homens mĂ©dios, desejosos de agir como toda a gente, que tĂȘm por guias as opiniĂ”es e as crenças gerais. É muito Ăștil tambĂ©m que as opiniĂ”es gerais sejam pouco tolerantes, pois o medo do juĂ­zo alheio constitui uma das bases mais seguras da nossa moral.
A mediocridade de espírito pode, pois, ser benéfica para um povo,

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A Maldade como Poderoso Elemento do Progresso Humano

Os sentimentos fixos e de forma constante qualificados de paixÔes constituem, também, possantes factores de opiniÔes, de crenças e, por conseguinte, de conduta. Certas paixÔes contagiosas tornam-se, por esse motivo, facilmente colectivas. A sua acção é, então, irresistível. Elas precipitaram muitos povos uns contra os outros nas diversas fases da história. As paixÔes podem excitar a nossa actividade, porém, alteram, as mais das vezes, a justeza das opiniÔes, impedindo de ver as coisas como realmente são e de compreender a sua génese. Se nos livros de história são abundantes os erros, é porque, na maior parte dos casos, as paixÔes ditam a sua narrativa. Não se citaria, penso eu, um historiador que haja relatado imparcialmente a Revolução.
O papel das paixĂ”es Ă©, como vemos, muito considerĂĄvel nas nossas opiniĂ”es e, por conseguinte, na gĂ©nese dos acontecimentos. NĂŁo sĂŁo, infelizmente, as mais recomendĂĄveis que tĂȘm exercido maior acção. Kant reconheceu a grande força social das piores paixĂ”es. A maldade Ă©, no seu juĂ­zo, um poderoso elemento do progresso humano. Parece, infelizmente, muito certo que, se os homens tivessem seguido o preceito do Evangelho “Amai-vos uns aos outros”, ao invĂ©s de obedecerem ao da Natureza, que os incita a se destruĂ­rem mutuamente,

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A Tirania Individual e a Tirania Colectiva

As divergĂȘncias de opiniĂŁo nĂŁo resultam, como por vezes supomos, das desigualdades de instrução daqueles que as manifestam. Elas notam-se, com efeito, em indivĂ­duos dotados de inteligĂȘncia e de instrução equivalentes. Disso se convencerĂĄ quem percorrer as respostas aos grandes inquĂ©ritos colectivos destinados a elucidar certas questĂ”es bem definidas.
Entre os inĂșmeros exemplos fornecidos pela leitura das suas actas, mencionarei apenas um, muito tĂ­pico, publicado nos Anais de Psicologia do sr. Binet. Querendo informar-se quanto aos efeitos da redução do programa de histĂłria da filosofia nos liceus, enviou um questionĂĄrio a todos os professores incumbidos desse ensino. As respostas foram nitidamente contraditĂłrias, pois uns declaravam desastroso o que os outros julgavam excelente. «NĂŁo se compreende», conclui o Sr. Binet com melancolia, «que uma reforma que consterna um professor, pareça excelente a um dos seus colegas. Que lição para eles sobre a relatividade das opiniĂ”es humanas, mesmo entre pessoas competentes!».
ContradiçÔes da mesma espécie invariavelmente se manifestaram em todos os assuntos e em todos os tempos. Para chegar à acção, o homem teve, entretanto, de escolher entre essas opiniÔes contrårias. Como operar tal escolha, sendo a razão muito fraca para a determinar?
Somente dois mĂ©todos foram descobertos atĂ© hoje: aceitar a opiniĂŁo da maioria ou a de um Ășnico,

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Os Elementos Fixadores da Personalidade

Os resĂ­duos ancestrais formam a camada mais profunda e mais estĂĄvel do carĂĄcter dos indivĂ­duos e dos povos. É pelo seu “eu” ancestral que um inglĂȘs, um francĂȘs, um chinĂȘs, diferem tĂŁo profundamente.
Mas a esses remotos atavismos sobrepĂ”em-se elementos suscitados pelo meio social (casta, classe, profissĂŁo, etc.), pela educação e ainda por muitas outras influĂȘncias. Eles imprimem Ă  nossa personalidade uma orientação assaz constante. SerĂĄ o “eu”, um pouco artificial, assim formado, que exteriorizaremos cada dia.
Entre todos os elementos formadores da personalidade, o mais activo, depois da raça, Ă© o que determina o agrupamento social ao qual pertencemos. Fundidas no mesmo molde pelas idĂ©ias, as opiniĂ”es e as condutas semelhantes que lhes sĂŁo impostas, as individualidades de um grupo: militares, magistrados, padres, operĂĄrios, marinheiros, etc., apresentam numerosos carĂĄcteres idĂȘnticos.
As suas opiniÔes e os seus juízos são, em geral, vizinhos, porquanto sendo cada grupo social muito nivelador, a originalidade não é tolerada nele. Aquele que se quer diferenciar do seu grupo tem-no inteiramente por inimigo.
Essa tirania dos grupos sociais, na qual insistiremos, nĂŁo Ă© inĂștil. Se os homens nĂŁo tivessem por guia as opiniĂ”es e a maneira de proceder daqueles que os cercam,

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