O Ă“dio liga mais os IndivĂduos que a Amizade
O Ăłdio, a inveja e o desejo de vingança ligam muitas vezes mais dois indivĂduos um ao outro do que o podem fazer o amor e a amizade. Pois está em causa a comunidade de interesses interiores ou exteriores e a alegria que se sente nessa comunidade – onde Ă© muitas vezes determinada a essĂŞncia das relações positivas entre os indivĂduos: o amor e a amizade – Ă© sempre relativa e nĂŁo Ă© em nenhum caso um estado de alma permanente; mas as relações negativas, essas sĂŁo, a maior parte das vezes, absolutas e constantes. O Ăłdio, a inveja e o desejo de vingança tĂŞm, poder-se-ia dizer, o sono mais ligeiro do que o amor. O menor sopro os desperta, enquanto que o amor e a amizade continuam tranquilamente a dormir, mesmo sob o trovĂŁo e os relâmpagos.
Textos sobre Menor de Arthur Schnitzler
3 resultadosApreciação Imparcial
Há poucos indivĂduos a quem Ă© dado contemplar uma obra de arte como espectadores tranquilos; mas Ă© difĂcil encontrar um que seja capaz ou tenha a vontade, ao mesmo tempo que deixa a obra penetrá-lo, e escuta as suas impressões ou as palavras de outro, de permanecer simples observador. Sem se dar conta disso, torna-se crĂtico, procurando mostrar a sua força de juĂzo, exercer o seu humor e avaliar a sua prĂłpria pessoa.
O ingĂ©nuo fá-lo inicialmente, Ă© certo, sem a menor intenção malĂ©vola; mas mesmo nele, as propriedades naturais do indivĂduo nĂŁo tardam a impĂ´r os seus direitos – vaidade e pedantice, desejo de ser superior aos seus prĂłprios olhos e aos olhos dos outros – de tal modo que depressa estará mais decidido a desvelar as fraquezas de uma obra do que a aceitar os seus lados positivos.
Somos Todos CorruptĂveis
A faculdade de se deixar corromper no sentido mais amplo do termo Ă© uma particularidade da espĂ©cie humana em geral; mais ainda, as relações entre os homens sĂł sĂŁo possĂveis porque somos todos corruptĂveis em maior ou menor grau. Cada vez que dependemos do amor, da benevolĂŞncia, da simpatia ou simplesmente da delicadeza, estamos já no fundo corrompidos, e o nosso juĂzo nunca Ă©, por isso, verdadeiramente objectivo; e ele Ă©-o tanto menos quanto nos esforçamos por permanecer incorruptĂveis.
A corruptibilidade está longe de se limitar à estrita relação de pessoa a pessoa; uma obra, uma acção, um gesto pode lisonjear-nos confirmando o nosso amor próprio, as nossas opiniões ou a nossa impressão sobre o mundo.
É apenas quando utilizamos conscientemente a corruptibilidade dos outros para nossa vantagem pessoal ou em detrimento de um terceiro, que ela é um mal, mas a falta é então mais nossa do que daquele cuja corruptibilidade nos beneficia.