A Indiferença ou a Paixão pelos Outros
O que Ă© mais proveitoso — perguntava eu — representar o mundo como pequeno ou como grande? Vejamos como eu resolvia o assunto: os homens eminentes, os capitĂŁes famosos, os estadistas competentes, em suma, todos os conquistadores e todos os chefes que se elevam pela violĂŞncia acima dos outros homens, devem ser feitos de tal maneira que o Mundo lhes deve parecer como um tabuleiro de damas. Se assim nĂŁo fosse, eles nĂŁo teriam a rudeza e a impassibilidade necessárias para subordinarem audaciosamente aos seus imprevisĂveis planos a felicidade e os sofrimentos dos indivĂduos isolados, sem se importarem nada com isso. Em contrapartida, uma tĂŁo limitada concepção pode levar os homens a nĂŁo realizarem coisa alguma, porque todo aquele que considera a humanidade como uma coisa sem importância acabará por a achar insignificante e por soçobrar na indiferença e na passividade. Desdenhoso de tudo, preferirá a inĂ©rcia Ă acção sobre os espĂritos, sem contar que a sua insensibilidade, a sua ausĂŞncia de simpatia e a sua letargia chocarĂŁo toda a gente, ofendendo constantemente um mundo imbuĂdo do seu prĂłprio valor. Assim se lhe fecharĂŁo todas as vias de um sucesso imprevisto. Será mais razoável — perguntava eu, entĂŁo — ver na humanidade qualquer coisa de grande,
Textos sobre Mundo de Thomas Mann
2 resultadosA UniĂŁo entre o EspĂrito e a Beleza
Há uma beleza espiritual e há outra beleza que fala aos sentidos. Certas pessoas pretendem que o belo pertence exclusivamente ao campo dos sentidos, separando dele por completo o espiritual, de modo que o nosso mundo apresente uma cisĂŁo entre os dois. Nisso tambĂ©m se baseia o ensinamento verĂdico: «Apenas por dois modos a felicidade Ă© cognoscĂvel em todo o Universo: a que nos vem das alegrias do corpo e a que nos vem da paz redentora do espĂrito». Desta doutrina, no entanto, segue-se que o espiritual nĂŁo se acha, para o belo, na mesma relação em que o belo se encontra para com o feio e que, sĂł em certas condições, se confunde com este.
O espiritual nĂŁo Ă© sinĂłnimo de beleza pelo conhecimento e pelo amor do belo, amor este que se exprime em beleza espiritual. Tal amor, em absoluto, nĂŁo Ă© absurdo ou sem esperança, pois, pela lei da atracção dos opostos, o belo por sua vez anseia pelo espiritual, admirando-o e recebendo-lhe com agrado a corte. Este mundo nĂŁo está constituĂdo de tal modo que o espĂrito esteja fadado a amar apenas o espiritual, nem a beleza unicamente votada a procurar o belo. Na verdade,