Textos sobre Navegadores

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Textos de navegadores escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

A Sabedoria do Sofrimento

O sofrimento não tem menos sabedoria do que o prazer: tal como este, faz parte em elevado grau das forças que conservam a espécie. Porque se fosse de outra maneira há muito que esta teria desaparecido; o facto de ela fazer mal não é um argumento contra ela, é muito simplesmente a sua essência. Ouço nela a ordem do capitão: «Amainem as velas». O intrépido navegador homem deve treinar-se a dispor as suas de mil maneiras; de outro modo, não tardaria a desaparecer, o oceano havia de o engolir depressa. É preciso que saibamos viver também reduzindo a nossa energia; logo que o sofrimento dá o seu sinal, é chegado o momento; prepara-se um grande perigo, uma tempestade, e faremos bem em oferecer a menor «superfície» possível.
Há homens, contudo, que, quando se aproxima o grande sofrimento, ouvem a ordem contrária e nunca têm ar mais altivo, mais belicoso, mais feliz do que quando a borrasca chega, que digo eu! E a própria tempestade que lhes dá os seus mais altos momentos! São os homens heróicos, os grandes «pescadores da dor», esses raros, esses excepcionais de que é necessário fazer a mesma apologia que se faz para a própria dor!

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A Velha Angra

Olhou sobre a velha Angra, aninhada aos pés do Monte Brasil, as araucárias erguendo-se contra o céu cinzento. Esquadrinhou com o olhar as suas ruas, os seus solares e palácios, as suas igrejas. Imaginou marinheiros e mercadores, saltimbancos e aventureiros a caminho das sete partidas do mundo. Charlatães bebiam vinho com missionários, soldados negociavam serviços com prostitutas, piratas persuadiam navegadores ao serviço do rei sobre novas e mais rentáveis rotas, de encontro ao Vento Carpinteiro. Havia escravos e bêbedos, burocratas e crianças furtivas, freiras e casais de condenados com destino ao Brasil, e toda essa gente circulava pela cidade como se fosse o seu sangue, incerto e veloz, bombeado por um coração descompassado que era o próprio movimento do mar, furioso, naufragando naus e galeões como numa tela de Vernet.

Tudo Tem de Ser a Favor da Humanidade

Quando fiz o Cristóvão Colombo, e depois fiz uma apresentação em França, defendi que a hipótese de o navegador ter nascido em Portugal não era uma questão de patriotismo. O mérito está na pessoa, seja ela de que nacionalidade for. E o mérito de qualquer pessoa dá mérito à nação a que pertence, e dá mérito à humanidade. Essas figuras não são cativas delas próprias. É isto o fundo humanista, porque tudo tem de ser a favor da humanidade. Se for contra, é mau. Isso é muito importante. É assim que, quando um realizador português recebe um prémio, está a recebê-lo a cinematografia portuguesa, está a recebê-lo Portugal, a Europa, o mundo cinematográfico. Isto não é assim tão individual como parece. Quando se fala muito de Camões, estamos a falar dos portugueses, mas também do mérito dos humanos. As pessoas estão obcecadas com o patriotismo: “Eu é que sou.” Não é nada disso. O humanismo é que é fundamental e, às vezes, é esquecido. Mesmo nos partidos políticos, que muitas vezes caem no sectarismo. A natureza humana, em qualquer um dos partidos, é sempre a mesma. Não muda. É nela que está o mal e o bem. Mas concordo com a existência dos partidos,

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Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:

Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:
“Navegar é preciso; viver não é preciso”.

Quero para mim o espírito [d]esta frase,
transformada a forma para a casar como eu sou:

Viver não é necessário; o que é necessário é criar.
Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.
Só quero torná-la grande,
ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a (minha alma) a lenha desse fogo.

Só quero torná-la de toda a humanidade;
ainda que para isso tenha de a perder como minha.
Cada vez mais assim penso.

Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue
o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir
para a evolução da humanidade.

É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça.

A Sabedoria na Riqueza

Haverá dúvidas de que um homem de sabedoria tem mais condições para desenvolver as suas qualidades no meio das riquezas do que na pobreza? Na pobreza, só há um género de virtude: não se curvar nem se abater; na riqueza, a temperança, a liberalidade, a frugalidade, a ordem e a magnificência têm um campo aberto. O sábio não se despre­zará a si próprio, mesmo que seja de baixa estatura; desejará porém ser elegante. Com um corpo frágil ou com um olho a menos, ele sentir-se-á bem, mas preferirá, contudo, que o seu corpo seja robusto, apesar de saber que, em si, há algo mais forte. Ele tolerará uma saúde má, procurando ter uma saúde boa. De facto, algumas coisas, ainda que sejam pequenas em relação ao conjunto, quando são aproveitadas sem que se arruíne o bem principal, contribuem para a perpétua alegria, que nasce da virtude: as riquezas causam ao sábio a mesma impressão e o mesmo gáudio que causa o vento favorável ao navegador, ou que um belo dia causa num lu­gar enregelado pelo frio do Inverno. Quem, entre os sábios (falo dos nossos, aqueles para os quais a virtude é um bem) nega que mesmo estas coisas, que consideramos indiferentes,

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