O Amor e o Vinho

Pense-se, por exemplo, na relaĆ§Ć£o que existe entre o bebedor e o vinho. NĆ£o Ć© verdade que o vinho oferece sempre ao bebedor a mesma satisfaĆ§Ć£o tĆ³xica, que a poesia tem comparado com frequĆŖncia Ć  satisfaĆ§Ć£o erĆ³tica ā€” comparaĆ§Ć£o, de resto, aceitĆ”vel do ponto de vista cientĆ­fico? JĆ” alguma vez se ouviu dizer que o bebedor fosse obrigado a mudar sem descanso de bebida porque se cansaria rapidamente de uma bebida que permanecesse a mesma? Pelo contrĆ”rio, a habituaĆ§Ć£o estreita cada vez mais o laƧo entre o homem e a espĆ©cie de vinho que ele bebe. ExistirĆ” no bebedor uma necessidade de partir para um paĆ­s onde o vinho seja mais caro ou o seu consumo proibido, a fim de estimular por meio de semelhantes obstĆ”culos a sua satisfaĆ§Ć£o decrescente? De modo nenhum. Basta escutarmos o que dizem os nossos grandes alcoĆ³licos, como BĆ³cklin, da sua relaĆ§Ć£o com o vinho: evocam a harmonia mais pura e como que um modelo de casamento feliz.