A Moral, para o Bem e para o Mal

Os sentimentos morais nĂŁo sĂŁo inatos, mas adquiridos, mas tal nĂŁo significa que nĂŁo sĂŁo naturais, pois Ă© natural para o homem, falar, raciocinar, construir cidades, cultivar a terra, apesar destas competĂȘncias serem faculdades que sĂŁo adquiridas. Os sentimentos morais, na realidade, nĂŁo fazem parte da nossa natureza, se entendermos por tal que deviam estar presentes em todos nĂłs, num grau apreciĂĄvel, realidade que indubitavelmente Ă© um facto muito lamentĂĄvel, reconhecido atĂ© pelos que mais veentemente acreditam na origem transcendente destes sentimentos. No entanto, tal como as outras faculdades referidas, a faculdade moral, nĂŁo fazendo embora parte da nossa natureza, vai-se desenvolvendo naturalmente; tal como as outras, pode nascer espontaneamente e, apesar de muito frĂĄgil, no inĂ­cio, Ă© capaz de atingir, por influĂȘncia da cultura, um grau elevado de desenvolvimento. Infelizmente, tambĂ©m, mas recorrendo, tanto quanto Ă© necessĂĄrio, Ă s sançÔes externas, e aproveitando a influĂȘncia das primeiras impressĂ”es, ela pode ser desenvolvida em qualquer direcção, ou quase, a ponto de nĂŁo haver ideia, por mais absurda e perigosa que possa ser, que nĂŁo se consiga impor ao espĂ­rito humano, conferindo-lhe, pelo jogo dessas influĂȘncias, toda a autoridade da consciĂȘncia.