Textos sobre Segundos de Albert Camus

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Textos de segundos de Albert Camus. Leia este e outros textos de Albert Camus em Poetris.

A Arte e a Filosofia

Nunca será de mais insistir no carácter arbitrário da antiga oposição entre arte e a filosofia. Se quisermos interpretá-la num sentido muito preciso, é certamente falsa. Se quisermos simplesmente significar que essas duas disciplinas têm, cada uma delas, o seu clima particular, isso é verdade sem dúvida, mas muito vago. A única argumentação aceitável residia na contradição levantada entre o filósofo fechado no meio do seu sistema e o artista colocado diante da sua obra. Mas isto era válido para uma certa forma de arte e de filosofia, que aqui consideramos secundária. A ideia de uma arte separada do seu criador não está somente fora de moda. É falsa. Por oposição ao artista, dizem-nos que nunca nenhum filósofo fez vários sistemas.
Mas isto é verdade, na própria medida em que nunca nenhum artista exprimiu mais de uma só coisa sob rostos diferentes. A perfeição instantânea da arte, a necessidade da sua renovação, só é verdade por preconceito. Porque a obra de arte também é uma construção, e todos sabem como os grandes criadores podem ser monótonos. O artista, tal como o pensador, empenha-se e faz-se na sua obra. Essa osmose levanta o mais importante dos problemas estéticos. Além disso,

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O Segredo dos Seres e do Mundo

Sentia-me à vontade em tudo, isso é verdade, mas ao mesmo tempo nada me satisfazia. Cada alegria fazia-me desejar outra. Ia de festa em festa. Acontecia-me dançar noites a fio, cada vez mais louco com os seres e com a vida. Por vezes, já bastante tarde, nessas noites em que a dança, o álcool leve, o meu desenfreamento, o violento abandono de cada qual, me lançavam para um arroubo ao mesmo tempo lasso e pleno, parecia-me, no extremo da fadiga e no lapso de um segundo, compreender, enfim, o segredo dos seres e do mundo. Mas a fadiga desaparecia no dia seguinte e, com ela, o segredo; e eu atirava-me outra vez.