O Amor IndĂłmito
Há casos de alucinação, extasis incendiados de fantasia, em que o homem subjuga ao seu transporte as fĂ©rreas considerações sociais, fazendo-as reflexivas de todo o brilho da sua alegria. É por isso que as grandes paixões estĂŁo em divĂłrcio com o juĂzo prudencial. No mar da vida o fanal do amor Ă© o que mais resplende. Cegam-se os olhos e entendimento ao que mais ansiosamente o fita. Com a mente fixa nesse clarĂŁo esperançoso, que tĂŁo frouxas rĂ©steas de luz nos dá em paga de tremendos trabalhos, transcuram-se vagas e baixios que nos assaltam o pobre baixel. O amor indĂłmito, fremente e tempestuoso Ă© um naufrágio que se ama, uma dor com que se brinca, e, enfim, um delĂrio honroso em qualquer criatura.
Textos sobre Vagas de Camilo Castelo Branco
2 resultadosPaixĂŁo Ăšnica
Quem me dera poder ver-te!
Ai! quem me dera dizer-te,
Que pude amar-te, e perder-te,
Mas olvidar-te… isso nĂŁo!
Que no ardor de outros amores,
Através de mil dissabores,
Senti vivas sempre as dores
Duma remota paixĂŁo.Com que dorida saudade
Penso nessa mocidade,
Nessa vaga ansiedade,
Que soubeste compreender!
E tu sĂł, sĂł tu soubeste,
Que, num mundo, como este,
Qual florinha em penha agreste,
Pode a flor da alma morrer.Orvalhaste-a quando ainda,
Ao nascer, singela e linda,
Respirava a esperança infinda,
Que consigo a infância tem.
Amparaste-a, quando o norte
Das paixões, soprando forte,
Lhe quiz dar rápida morte
Como à cândida cecem!E, depois, nuvem escura
Lá no céu desta ventura
Enlutou-me a aurora pura
Dos meus anos infantis.
Houve nesta vida um espaço,
Onde nunca dei um passo,
Em que não deixasse um traço
De paixões torpes e vis !E não tenho outra memória
Que me inspire altiva gloria,
Nem outro nome na historia
De meus delĂrios fatais.