A Obra Nunca Está Concluída
Considera-se, muitas vezes, a obra de um criador como uma sequência de testemunhos isolados. Confunde-se então artista e literato. Um pensamento profundo está em perpétua formação, esgota a experiência de uma vida e nela se modela. Do mesmo modo, a criação única de um homem fortifica-se nos seus rostos sucessivos e múltiplos, que são as obras. Umas completam as outras, corrigem-as ou alcançam-as, contradizem-as também. Se alguma coisa termina a criação, não é o grito vitorioso e ilusório do artista, ofuscado: «Disse tudo», mas a morte do criador que fecha a sua experiência e o livro do seu génio.
Esse esforço, esta consciência sobre-humana, não aparece forçosamente ao leitor. Não há mistério na criação humana. É a vontade que faz esse milagre. Em todo o caso, não há verdadeira criação sem segredo. Sem dúvida, uma sequência de obras pode não passar de uma série de aproximações do mesmo pensamento. Mas podemos conceber outra espécie de criadores que procederiam por justaposição. As suas obras podem parecer sem relação entre si. Em certa medida, são contraditórias. Mas, colocadas de novo no seu conjunto, denunciam uma ordem. É, pois, da morte que recebem o seu sentido definitivo. Aceitam a sua luz mais clara da própria vida do seu autor.
Passagens de Albert Camus
197 resultadosSobretudo, não acredite que os seus amigos lhe telefonarão todas as noites, como deviam, para saber se não é precisamente essa a noite em que decidiu suicidar-se. Ou, mais simplesmente, se não tem necessidade de companhia, se não está com vontade de sair. Oh, não! Se telefonarem, esteja descansado. Será na noite em que já não está só e a vida é bela.
Nada no mundo vale que nos afastemos daquilo que amamos. E, contudo, também eu me afasto, sem que possa saber porquê.
Sim, o homem é o seu próprio fim. E é o seu único fim.
Nós não estamos senão mais ou menos em todas as coisas.
Você sabe o que é o encanto? é ouvir um sim como resposta sem ter perguntado nada.
Aquilo que mais secretamente tememos sempre acaba acontecendo.
A negação é o Deus dos existencialistas. (p. 55)
No meio do inverno, aprendi que existia em mim um invencível verão.
Já é vender a alma não saber contentá-la.
A criação é a mais eficaz de todas as escolas de paciência e de lucidez.
Para que tudo se consumasse, para que me sentisse menos só, faltava-me desejar que houvesse muitos espectadores no dia da minha execução e que me recebessem com gritos de ódio.
O absurdo é a razão lúcida que constata os seus limites.
E no meio de um inverno eu finalmente aprendi que havia dentro de mim um verão invencível.
Toda a infelicidade dos homens nasce da esperança.
Sabiam agora que, se há qualquer coisa que se pode desejar sempre e obter algumas vezes, essa qualquer coisa é a ternura humana.
O êxito é fácil de obter. O difícil é merecê-lo.
No frio do inverno, finalmente aprendi que dentro de mim existe um insuperável verão.
Não podemos afirmar a inocência de ninguém, ao passo que podemos afirmar com segurança a culpabilidade de todos. Cada homem é testemunha do crime de todos os outros, eis a minha fé e a minha esperança.
Amar um Ser é Matar Todos os Outros
Não há uma coisa que se faça por um ser (que se faça verdadeiramente) que não negue um outro. E quando não nos podemos resignar a negar os seres, há uma lei que nos estiriliza para sempre. De certo modo, amar um ser é matar todos os outros.