Alguns raciocinam sempre ao contrário, dando muita atenção ao que é pouco importante e pouca atenção ao que é muito importante.
Passagens de Baltasar Gracián
166 resultadosO ouvido é a segunda porta da verdade, e a primeira da mentira.
Os tolos se perdem porque não pensam. Não enxergam nem metade das coisas, e, por não perceberem nem as suas vantagens, nem o seu prejuízo, empregam mal os seus esforços.
O tempo é a única coisa que temos verdadeiramente nossa.
Não há ninguém mais fácil de enganar do que um homem honesto; muito crê quem nunca mente, e confia muito quem nunca engana.
Uma parte do mundo troça da outra e uma e outra riem-se da sua loucura comum.
O coração de uma mãe é um abismo profundo em que no fundo sempre se encontra o perdão.
Saber Negar
Nem tudo se há-de conceder, nem a todos. É tão importante quanto o saber conceder, e nos que mandam é consideração indispensável. Aí entra o modo. Mais se preza o não de alguns que o sim de outros, porque um não dourado satisfaz mais que um sim a seco. Há muitos que têm sempre um não na boca. Neles o não é sempre o primeiro, e, ainda que depois tudo venham a conceder, não se entende por que precedeu aquela primeira mágoa. Não deverão as coisas ser negadas de chofe: sorva-se aos tragos o desengano; nem se negue de todo, que seria desesperar a dependência. Que fiquem sempre alguns vestígios de esperança a temperar o amargor do negar. Que a cortesia encha o vazio do favor e que as boas palavras supram a falta das obras. O não e o sim são breves de dizer, e pedem muito pensar.
As grandes pessoas nunca se contentam com aplausos comuns.
O silêncio é o santuário da prudência.
Ao homem sábio são mais úteis os seus inimigos do que ao tolo os seus amigos.
A morte é para os novos um naufrágio e para os velhos um porto de embarque.
O silêncio cauteloso é o refúgio da sensatez.
Alguns são notáveis pelos conhecimentos e bom senso. Pelo exemplo e pelo modo de agir, são oráculos de toda a grandeza.
Às vezes, entre um homem e outro existe tanta diferença como entre um homem e um animal.
Moderar as Expectativas
Ordinário desaire de tudo o que é muito celebrado antes é não chegar depois ao excesso do que foi concebido. Nunca o verdadeiro pôde alcançar o imaginado, porque fingir perfeições é fácil; difícil é consegui-las. Casa-se a imaginação com o desejo e concebe sempre muito mais do que as coisas são. Por maiores que sejam as excelências, não bastam para satisfazer o conceito, e, se o enganam com exorbitante expectação, é mais rápido o desengano que a admiração. A esperança é grande falsificadora da verdade: que a cordura a corrija, fazendo que a fruição seja superior ao desejo. Princípios de crédito servem para despertar a curiosidade, não para empenhar o objecto. Melhor resulta quando a realidade excede o conceito e é mais do que se acreditou. Essa regra faltará no que é mau, pois ajuda-o a própria exageração; desmente-a o aplauso, chegando a parecer tolerável o que se temeu ser ruim ao extremo.
O ‘como’ desempenha papel importante nas coisas e um comportamento correto conquista a afeição dos outros.
O homem prudente busca refúgio no seu silêncio sagrado, e se comunica com poucos e sempre com pessoas inteligentes.
Vale mais lutar com gente de bem do que triunfar sobre gente ruim.
Formar Conceito
Formar conceito, e mais do que mais importa. Por não pensarem perdem-se todos os néscios: nunca concebem nas coisas nem a metade; e, como não percebem o dano nem a conveniência, tampouco aplicam a diligência. Alguns fazem muito caso do que pouco importa, e pouco caso do que importa muito, ponderando sempre às avessas. Muitos, por serem faltos de senso, não o perdem. Coisas há que se deveriam observar com todo o empenho, e conservar na profundidade da mente. O sábio forma conceito de tudo, ainda que, discernindo, cave onde haja fundo e reparo, pensando às vezes que haja mais do que pensa; de tal sorte que a reflexão chega aonde não chegou a apreensão.