Enfermaria Nove
13
Correram as cortinas: construíram
um último lugar, – indefinido
trânsito: funesto, ou devido
aos olhos que dez vezes já o viramerguido sobre o chão de um tal piso.
Ridículo volume; mas o pano
destrói passo e sonho, – desengano
crescendo no espelho quase liso.Um pouco mais de luz: a de não ser.
E o golpe, em si, torna-se breve:
o tempo do transporte, – se um braçoavança no desejo de prender.
E o corpo dilui-se quando leve
impulso diminui, – ou se diz lasso.
Passagens sobre Dez
142 resultadosAmigos para Sempre
Os amigos cada vez mais se vêem menos. Parece que era só quando éramos novos, trabalhávamos e bebíamos juntos que nos víamos as vezes que queríamos, sempre diariamente. E, no maior luxo de todos, há muito perdido: porque não tínhamos mais nada para fazer.
Nesta semana, tenho almoçado com amigos meus grandes, que, pela primeira vez nas nossas vidas, não vejo há muitos anos. Cada um começa a falar comigo como se não tivéssemos passado um único dia sem nos vermos.
Nada falha. Tudo dispara como se nos estivera – e está – na massa do sangue: a excitação de contar coisas e partilhar ninharias; as risotas por piadas de há muito repetidas; as promessas de esperanças que estão há que décadas por realizar.
Há grandes amigos que tenho a sorte de ter que insistem na importância da Presença com letra grande. Até agora nunca concordei, achando que a saudade faz pouco do tempo e que o coração é mais sensível à lembrança do que à repetição. Enganei-me. O melhor que os amigos e as amigas têm a fazer é verem-se cada vez que podem. É verdade que, mesmo tendo passado dez anos, sente-se o prazer inencontrável de reencontrar quem se pensava nunca mais encontrar.