MarĂ­lia De Dirceu

Soneto 2

Num fértil campo de soberbo Douro,
Dormindo sobre a relva, descansava,
Quando vi que a Fortuna me mostrava
Com alegre semblante o seu tesouro.

De uma parte, um montĂŁo de prata e ouro
Com pedras de valor o chĂŁo curvava;
Aqui um cetro, ali um trono estava,
Pendiam coroas mil de grama e louro.

– Acabou – diz-me entĂŁo – a desventura:
De quantos bens te exponho qual te agrada,
Pois benigna os concedo, vai, procura.

Escolhi, acordei, e nĂŁo vi nada:
Comigo assentei logo que a ventura
Nunca chega a passar de ser sonhada.