Entre o frívolo e o trágico: a amargura do pioneiro. Depois de ter sofrido tantas humilhações por ser de vanguarda, quando chega à maturidade, o pioneiro vê os que vieram depois usufruir do que ele descobriu, ignorando-o. A consciência do real é um inútil oxímoro que morde.
Frases de Ana Hatherly
40 resultadosPensar o presente conduz necessariamente ao desespero porque a vida não tem outra solução senão perpetuar-se na sua imperfeição.
O escritor foi sempre um funâmbulo cego e o leitor é apenas um espectador de passagem.
Keats disse que uma coisa bela é uma alegria eterna. Hoje a beleza é a voz sufocada de uma perdida sabedoria.
Algo está sempre a acontecer. Por isso escrevo. Escrevo porque algo aconteceu ou acontece. Escrever é isso, mas escrever é sobretudo produzir o acontecer.
Em arte a realidade verdadeiramente possível é a que nós inventamos.
A ideia de que o mundo é o reino da loucura é uma convicção muito arreigada. O louco, como out-sider, marginal supremo, é útil e portanto necessário. As qualidades do outro fazem parte da lista dos crimes essenciais.
A fraqueza absoluta é a espécie de ilusão permitida pela simulação do controlo de não agir.
A observação do Outro: a diferença é o que nos une e separa. Quando o eu descobre o outro começa a guerrilha sem fim. O nó que se faz-desfaz. A escolha: o gelo da solidão ou a horrível queimadura da vida.
Quantas vezes não é através dos actos aparentemente mais inúteis ou supérfluos que o homem descobre a sua força?
O amor ama as coisas difíceis, por isso quem ama vive num permanente estado de impaciência.
A obra de arte é um acontecimento que consome ao ser consumida.
A sabedoria do amor consiste na aprendizagem pelo sofrimento, do prazer nele contido.
O próprio do prazer é não poder ser dito.
O homem invisível é uma metáfora de todas as coisas impossíveis com que sonhamos: a felicidade, o amor, o saber que nos escapa. Entre o próximo e o longínquo está o prazer que se experimenta num instante supremo mas essa plenitude está fora do nosso campo visual.
Penso no acto de escrever. O real é uma retrospectiva: registar recolher nomear esquecer. A mão obedece é uma bobina de seis pontas quando escreve. Esse é o mundo natural do escritor.
O acto de criar é um estado de extática não-reacção a tudo o que não seja ele. Pela sua natureza explosiva exclui a multiplicidade. É total preensão. O acto criador é a ostentação de uma necessidade.
Quem tem sentimentos acerca das coisas fica prisioneiro do tempo.
A arte torna-se arte quando a sua naturalidade original é transformada pelo contexto em que funciona.
A amizade é um sentimento de difícil definição. Na prática porém todos concordam que ela se traduz acima de tudo por serviços prestados.