O encanto da novidade, caindo pouco a pouco com uma peça de roupa, punha a nu a eterna monotonia da paixão, que tem sempre as mesmas formas e a mesma linguagem.
Passagens de Gustave Flaubert
101 resultadosA estupidez consiste em querer concluir.
Punham-se então a falar em voz baixa e a conversa parecia-lhes assim mais doce, pelo seu recato.
Talvez a morte tenha mais segredos para nos revelar que a vida.
Aos incapazes de gratidão nunca faltam pretextos para não a ter.
Ages Impelido por Mil Coisas
Dizes-te livre e todos os dias ages impelido por mil coisas. Vês uma mulher e ama-la, morres de amor por ela; serás livre de acalmar esse sangue que pulsa, de serenar essa cabeça ardente, de refrear esse coração, de aplacar esses ardores que te devoram? Serás livre de pensar? Mil cadeias te retêm, mil aguilhões te impelem, mil entraves te fazem parar. Vês um homem pela primeira vez, há um dos seus traços que te choca, e durante a tua vida sentes aversão por esse homem, que talvez tivesses amado se tivesse o nariz mais pequeno. Tens mau estômago, e és brutal para com aquele que terias acolhido com benevolência. E de todos estes factos derivam, ou neles se encadeiam, também fatalmente, outras séries de factos, de que outros derivam por sua vez.
Faz-se crítica quando não se pode fazer arte, como quem se torna delator quando não se pode ser soldado.
Tenha cuidado com a tristeza. É um vício.
O Fim da Civilização
Quando se extinguirá esta sociedade corrompida por todas as devassidões, devassidões de espírito, de corpo e de alma? Quando morrer esse vampiro mentiroso e hipócrita a que se chama civilização, haverá sem dúvida alegria sobre a terra; abandonar-se-á o manto real, o ceptro, os diamantes, o palácio em ruínas, a cidade a desmoronar-se, para se ir ao encontro da égua e da loba.
Depois de ter passado a vida nos palácios e gasto os pés nas lajes das grandes cidades, o homem irá morrer nos bosques. A terra estará ressequida pelos incêncios que a devastaram e coberta pela poeira dos combates; o sopro da desolação que passou sobre os homens terá passado sobre ela e só dará frutos amargos e rosas com espinhos, e as raças extinguir-se-ão no berço, como as plantas fustigadas pelos ventos, que morrem antes de ter florido.
Porque tudo tem de acabar e a terra, de tanto ser pisada, tem de gastar-se; porque a imensidão deve acabar por cansar-se desse grão de poeira que faz tanto alarido e perturba a majestade do nada. De tanto passar de mãos e de corromper, o outro esgotar-se-á; este vapor de sangue abrandará, o palácio desmoronar-se-á sob o peso das riquezas que oculta,
Mas o denegrirmos os que amamos sempre no desliga deles um pouco. Não é bom tocar nos ídolos; o dourado pode sair nas nossas mãos.
A recordação é a esperança do avesso. Olha-se para o fundo do poço como se olhou para o alto da torre.
Porque as suas convicções filosóficas não impediam suas admirações artísticas; nele, o pensador não subjugava o homem sensível.
De todas as mentiras, a arte é ainda a menos falsa.
Não há verdade, só há percepção.
Talento é paciência sem fim.
O artista deve fazer com que a posteridade pense que ele não existiu.
Pode fazer-se tudo, salvo fazer sofrer os outros: eis a minha moral.
A melancolia nada mais é que uma recordação inconsciente.
Uma pessoa tem de ser muito ordenada e burguesa na vida privada para poder ser louca e inventiva na vida criativa.
O coração é uma riqueza que não se vende e não se compra. O coração é uma riqueza que se dá.