Passagens sobre Mel

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Frases sobre mel, poemas sobre mel e outras passagens sobre mel para ler e compartilhar. Leia as melhores citaçÔes em Poetris.

O Poeta Pede a Seu Amor que lhe Escreva

Meu entranhado amor, morte que Ă© vida,
tua palavra escrita em vĂŁo espero
e penso, com a flor que se emurchece
que se vivo sem mim quero perder-te.

O ar Ă© imortal. A pedra inerte
nem a sombra conhece nem a evita.
Coração interior não necessita
do mel gelado que a lua derrama.

Porém eu te suportei. Rasguei-me as veias,
sobre a tua cintura, tigre e pomba,
em duelo de mordidas e açucenas.

Enche minha loucura de palavras
ou deixa-me viver na minha calma
e para sempre escura noite d’alma.

Tradução de Oscar Mendes

Génio, Talento e Celebridade

Pode-se supor que a presença no mesmo homem de mais de um elemento intelectual facilitaria a sua imediata celebridade. AtĂ© certo limite Ă© assim, mas o Ă© atĂ© um limite menor do que se poderia conjecturar na ociosidade da hipĂłtese. Um homem dotado ao mesmo tempo de grande gĂ©nio e de grande inteligĂȘncia (como Shakespeare), ou de grande gĂ©nio e grande talento (como Milton), nĂŁo acumula na sua Ă©poca ou na seguinte os resultados do gĂ©nio e os resultados de outra qualidade. É que estes diferentes elementos intelectuais estĂŁo misturados por coexistirem no homem, e derrama-se na substĂąncia da inteligĂȘncia ou do talento o sagrado veneno do gĂ©nio; a bebida Ă© amarga, embora retenha algo do seu gosto comum. Os antigos misturavam mel com vinho e achavam isso gostoso; mas o nĂ©ctar nĂŁo pode fazer qualquer vinho gostoso ao paladar da gente comum.
Um homem que pudesse ter em si prĂłprio, em certo grau, gĂ©nio, talento e inteligĂȘncia, estaria preparado para produzir impacto no seu tempo pela sua inteligĂȘncia, na sua Ă©poca pelo seu talento e na generalidade dos futuros tempos e Ă©pocas pelo seu gĂ©nio. Mas como o seu gĂ©nio afectaria o seu talento e o seu talento e o seu gĂ©nio a sua inteligĂȘncia –

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Manhãs de Além-Tunel

I

um tĂșnel um tĂșnel um tĂșnel sem fim
ao fim do tĂșnel sem fim um tonel
um tonel de mel de AlĂ©m-TĂșnel

um tonel de toneladas de mel
do mel de um dia melado de luz sem
fim

que compus para ti
para mim

II

te possuĂ­ aqui acolĂĄ
em tantos sĂ­tios
cantados semprencantados

— mas nunca

te possuĂ­ ao fim de um tĂșnel
nunca te possuĂ­ ao fim
nunca te possuĂ­
nunca

mas quanto te desejei
vĂŁs manhĂŁs, jĂĄ nĂŁo sei

Amando

Amando
fazemos juntos
o presépio,
com musgo, pinhas,
ervilhaca.

E ovelhas
procurando
pelos lĂĄbios
o campo
um do outro.

E pĂŁo, mel,
courelas
que renascem
da geada,
semoventes.

E o mesmo
hĂĄlito, calor
de dois animais,
nosso fazemos
aquele Filho.

Amor – Pois que Ă© Palavra Essencial

Amor — pois que Ă© palavra essencial
comece esta canção e toda a envolva.
Amor guie o meu verso, e enquanto o guia,
reĂșna alma e desejo, membro de vulva.

Quem ousarĂĄ dizer que ele Ă© sĂł alma?
Quem nĂŁo sente no corpo a alma expandir-se
até desabrochar em puro grito
de orgasmo, num instante de infinito?

O corpo noutro corpo entrelaçado,
fundido, dissolvido, volta Ă  origem
dos seres, que PlatĂŁo viu completados:
Ă© um, perfeito em dois; sĂŁo dois em um.

Integração na cama ou jå no cosmo?
Onde termina o quarto e chega aos astros?
Que força em nossos flancos nos transporta
a essa extrema região, etérea, eterna?

Ao delicioso toque do clitĂłris,
jĂĄ tudo se transforma, num relĂąmpago.
Em pequenino ponto desse corpo,
a fonte, o fogo, o mel se concentraram.

Vai a penetração rompendo nuvens
e devassando sĂłis tĂŁo fulgurantes
que nunca a vista humana os suportara,
mas, varado de luz, o coito segue.

E prossegue e se espraia de tal sorte
que, além de nós,

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Elegia dos Amantes LĂșcidos

Na girĂąndola das ĂĄrvores (e nĂŁo hĂĄ quem as detenha)
Deixa de fora a tarde o vermelho que a tinge.
Se ao menos tu ficasses na pausa que desenha
O contorno lunar da noite que te finge!

Se ao menos eu gelasse uma corda do vento
para encontrar a forma exacta dum violino
Que fosse a sensibilidade deste pensamento
Com que a minha sombra vai pensando o meu destino

E nĂŁo houvesse o sono dum telhado
Entre ter de haver eu e haver o tecto;
E a eternidade nĂŁo estivesse ao lado
A colocar-nos nas costas as asas dum insecto

Meu amor, meu amor, teu gesto nasce
Para partir de ti e ser ao longe
A cor duma cidade que nos pasce
Como a ausĂȘncia de deus pastando um monge

Ah, se uma sĂșbita mĂŁo na hora a pique
Tangendo harpas geladas por segredos
Desprendesse uma aragem de repiques
Destes sinos parados pelo medo!

Mas sĂł porque vieste fez-se tarde,
Ou Ă© a vida que nasce jĂĄ tardia
Como uma estrela que se acende e arde
Porque nĂŁo cabe na rapidez do dia?

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Frémito do Meu Corpo a Procurar-te

Frémito do meu corpo a procurar-te,
Febre das minhas mĂŁos na tua pele
Que cheira a Ăąmbar, a baunilha e a mel,
Doído anseio dos meus braços a abraçar-te,

Olhos buscando os teus por toda a parte,
Sede de beijos, amargor de fel,
Estonteante fome, ĂĄspera e cruel,
Que nada existe que a mitigue e a farte!

E vejo-te tĂŁo longe! Sinto tua alma
Junto da minha, uma lagoa calma,
A dizer-me, a cantar que nĂŁo me amas…

E o meu coração que tu não sentes,
Vai boiando ao acaso das correntes,
Esquife negro sobre um mar de chamas…

Males de Anto

A Ares n’uma aldeia

Quando cheguei, aqui, Santo Deus! como eu vinha!
Nem mesmo sei dizer que doença era a minha,
Porque eram todas, eu sei lĂĄ! desde o odio ao tedio.
Molestias d’alma para as quaes nĂŁo ha remedio.
Nada compunha! Nada, nada. Que tormento!
Dir-se-ia accaso que perdera o meu talento:
No entanto, ĂĄs vezes, os meus nervos gastos, velhos,
Convulsionavam-nos relampagos vermelhos,
Que eram, bem o sentia, instantes de CamÔes!
Sei de cór e salteado as minhas afflicçÔes:
Quiz partir, professar n’um convento de Italia,
Ir pelo Mundo, com os pĂ©s n’uma sandalia…
Comia terra, embebedava-me com luz!
Extasis, spasmos da Thereza de Jezus!
Contei n’aquelle dia um cento de desgraças.
Andava, å noite, só, bebia a noite ås taças.
O meu cavaco era o dos mortos, o das loizas.
Odiava os homens ainda mais, odiava as Coizas.
Nojo de tudo, horror! Trazia sempre luvas
(Na aldeia, sim!) para pegar n’um cacho d’uvas,
Ou n’uma flor. Por cauza d’essas mĂŁos… Perdoae-me,
AldeÔes! eu sei que vós sois puros. Desculpae-me.

Mas, atravez da minha dor,

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As Pessoas Sensatas

PlatĂŁo comparava a vida a um jogo de dados, no qual devĂȘssemos fazer um lance vantajoso e, depois, bom uso dos pontos obtidos, quaisquer que fossem. O primeiro item, o lance vantajoso, nĂŁo depende do nosso arbĂ­trio; mas receber de maneira apropriada o que a sorte nos conceder, assinalando a cada coisa um lugar tal que o que mais apreciamos nos cause o maior bem e o que mais aborrecemos o menor mal – isso nos incumbe, se formos sensatos. Os homens que defrontam a vida sem habilidade ou inteligĂȘncia sĂŁo como enfermos que nĂŁo podem tolerar nem o calor nem o frio; a prosperidade exalta-os e a adversidade desalenta-os. SĂŁo perturbados por uma e por outra, ou melhor, por si prĂłprios, numa ou noutra, nĂŁo menos na prosperidade que na adversidade.
Teodoro, chamado o Ateu, costumava dizer que oferecia os seus discursos com a mĂŁo direita, mas os seus ouvintes recebiam-nos com a esquerda; os ignaros frequentemente dĂŁo mostras da sua inĂ©pcia oferecendo Ă  Fortuna uma recepção canhestra quando ela se apresenta de modo destro. Mas as pessoas sensatas agem como as abelhas, que extraem mel do tomilho, planta muito seca e azeda; similarmente, as pessoas sensatas muitas vezes obtĂȘm para si algo de Ăștil e aprazĂ­vel das mais adversas situaçÔes.

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