Maomé e a Montanha

Guardo o mais absoluto segredo
das pedras que rolam no fundo dos leitos
embora nada saiba,
nada ouse saber.
Vou pelo olhar até ao rio,
o rio vem a mim
e ambos caminhamos deslumbrados
para fora de nĂłs.

O cantar da água
corre nos meus olhos exactamente como corre
a manhĂŁ
até que o sol a prumo
faz de mim o desenho do rio
que vejo,
o mapa das veias
onde o corpo nasce de novo.

Ă€ vinda procuro a minha sombra.
O coração que me há-de trazer de volta
demora-se no rio
como se nele corresse
uma sede de olhar.

Os pés colam-se à margem.
Do outro lado as casas vĂŁo mudando
de expressĂŁo
mais lentamente do que a água corre.
O sol abraça-me pelas costas
e deixa-se escorregar como crianças
que riem,
que nĂŁo distinguem a voz seca do tempo.

É noite à lareira da casa.
Os objectos acendem-se:
também eles mudam de rosto
como tudo o que Ă© iluminado por amor.

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