Sabedoria I, III
Que dizes, viajante, de estaçÔes, paĂses?
Colheste ao menos tédio, jå que estå maduro,
Tu, que vejo a fumar charutos infelizes,
Projectando uma sombra absurda contra o muro?Também o olhar estå morto desde as aventuras,
Tens sempre a mesma cara e teu luto Ă© igual:
Como através dos mastros se vislumbra a lua,
Como o antigo mar sob o mais jovem sol,Ou como um cemitĂ©rio de tĂșmulos recentes.
Mas fala-nos, vĂĄ lĂĄ, de histĂłrias pressentidas,
Dessas desilusÔes choradas plas correntes,
Dos nojos como insĂpidos recĂ©m-nascidos.Fala da luz de gĂĄs, das mulheres, do infinito
Horror do mal, do feio em todos os caminhos
E fala-nos do Amor e tambĂ©m da PolĂtica
Com o sangue desonrado em mãos sujas de tinta.E sobretudo não te esqueças de ti mesmo,
Arrastando a fraqueza e a simplicidade
Em lugares onde hĂĄ lutas e amores, a esmo,
De maneira tĂŁo triste e louca, na verdade!Foi jĂĄ bem castigada essa inocĂȘncia grave?
Que achas? Ă duro o homem; e a mulher? E os choros,
Quem os bebeu?
Poemas sobre Alma de Paul Verlaine
3 resultadosConversa Sentimental
No velho parque deserto e gelado
Duas formas passaram hĂĄ bocado.Com os olhos mortos e os lĂĄbios moles,
Mal se ouvem, a custo, as suas vozes.No velho parque deserto e gelado
Dois espectros evocaram o passado.â Recordas-te do nosso ĂȘxtase antigo?
â Por que razĂŁo acha que ainda consigo?â Bate, ao ouvires meu nome, o coração?
VĂȘs ainda a minha alma em sonhos? â NĂŁo.â Ah! bons tempos de prazer indizĂvel
Unindo as nossas bocas! â Ă possĂvel.â Como era azul, o cĂ©u, e grande a esperança!
â Mas Ă© prĂČ negro cĂ©u que hoje se lança.LĂĄ caminhavam plas aveias loucas
E só a noite ouviu as suas bocas.Tradução de Fernando Pinto do Amaral
II Bacio
O Beijo! malva-rosa em jardim de carĂcias!
Vivo acompanhamento no piano dos dentes
Dos refrĂŁos que Amor canta nas almas ardentes
Com a sua voz de arcanjo em lĂąnguidas delĂcias!Divino e gracioso Beijo, tĂŁo sonoro!
VolĂșpia singular, ĂĄlcool inenarrĂĄvel!
O homem, debruçado na taça adoråvel,
Deleita-se em venturas que nunca se esgotam.Como o vinho do Reno e a mĂșsica, embalas
E consolas a mĂĄgoa, que expira em conjunto
Com os lĂĄbios amuados na prega purpĂșrea…
Que um maior, Goethe ou Will, te erga um verso clĂĄssico.Quanto a mim, trovador franzino de Paris,
Só te ofereço um bouquet de estrofes infantis:
SĂȘ benĂ©volo e desce aos lĂĄbios insubmissos
De Uma que eu bem conheço, Beijo, e neles ri.Tradução de Fernando Pinto do Amaral