Poemas sobre Destino de Miguel Torga

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Poemas de destino de Miguel Torga. Leia este e outros poemas de Miguel Torga em Poetris.

Portugal

Avivo no teu rosto o rosto que me deste,
E torno mais real o rosto que te dou.
Mostro aos olhos que nĂŁo te desfigura
Quem te desfigurou.
Criatura da tua criatura,
Serás sempre o que sou.

E eu sou a liberdade dum perfil
Desenhado no mar.
Ondulo e permaneço.
Cavo, remo, imagino,
E descubro na bruma o meu destino
Que de antemão conheço:

Teimoso aventureiro da ilusĂŁo,
Surdo às razões do tempo e da fortuna,
Achar sem nunca achar o que procuro,
Exilado
Na gávea do futuro,
Mais alta ainda do que no passado.

Requiem por Mim

Aproxima-se o fim.
E tenho pena de acabar assim,
Em vez de natureza consumada,
RuĂ­na humana.
Inválido do corpo
E tolhido da alma.
Morto em todos os ĂłrgĂŁos e sentidos.
Longo foi o caminho e desmedidos
Os sonhos que nele tive.
Mas ninguém vive
Contra as leis do destino.
E o destino nĂŁo quis
Que eu me cumprisse como porfiei,
E caísse de pé, num desafio.
Rio feliz a ir de encontro ao mar
Desaguar,
E, em largo oceano, eternizar
O seu esplendor torrencial de rio.

SĂŁo Leonardo da Galafura

Ă€ proa dum navio de penedos,
A navegar num doce mar de mosto,
CapitĂŁo no seu posto
De comando,
S. Leonardo vai sulcando
As ondas
Da eternidade,
Sem pressa de chegar ao seu destino.
Ancorado e feliz no cais humano,
É num antecipado desengano
Que ruma em direcção ao cais divino.

Lá não terá socalcos
Nem vinhedos
Na menina dos olhos deslumbrados;
Doiros desaguados
SerĂŁo charcos de luz
Envelhecida;
Rasos, todos os montes
DeixarĂŁo prolongar os horizontes
Até onde se extinga a cor da vida.

Por isso, Ă© devagar que se aproxima
Da bem-aventurança.
É lentamente que o rabelo avança
Debaixo dos seus pés de marinheiro.
E cada hora a mais que gasta no caminho
É um sorvo a mais de cheiro
A terra e a rosmaninho!

Conquista

Livre nĂŁo sou, que nem a prĂłpria vida
Mo consente.
Mas a minha aguerrida
Teimosia
É quebrar dia a dia
Um grilhĂŁo da corrente.

Livre nĂŁo sou, mas quero a liberdade.
Trago-a dentro de mim como um destino.
E vão lá desdizer o sonho do menino
Que se afogou e flutua
Entre nenĂşfares de serenidade
Depois de ter a lua!

ClarĂŁo

O que isto Ă©, viver!
Abrir os olhos, ver,
E ser o nevoeiro que se vĂŞ!
Nevoeiro ao nascer,
Nevoeiro ao morrer,
E um destino na mĂŁo que se nĂŁo lĂŞ…