Poemas sobre Fábulas

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Poemas de fábulas escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Poema de Amor

Se te pedirem, amor, se te pedirem
que contes a velha histĂłria
da nau que partiu
e se perdeu,
nĂŁo contes, amor, nĂŁo contes
que o mar Ă©s tu
e a nau sou eu.

E se pedirem, amor, e se pedirem
que contes a velha fábula
do lobo que matou o cordeiro
e lhe roeu as entranhas,
nĂŁo contes, amor, nĂŁo contes
que o lobo Ă© a minha carne
e o cordeiro a minha estrela
que sempre tu conheceste
e te guiou — mal ou bem.

Depois, sabes, estou enjoado
desta farsa.
Histórias, fábulas, amores
tudo me corre os ouvidos
a fugir.

Sou o guerreiro sem forças
para erguer a sua espada,
sou o piloto do barco
que a tempestade afundou.

NĂŁo contes, amor, nĂŁo contes
que eu tenho a alma sem luz.

…Quero-me sĂł, a sofrer e arrastar
a minha cruz.

O Jardim

Consideremos o jardim, mundo de pequenas coisas,
calhaus, pétalas, folhas, dedos, línguas, sementes.
SequĂŞncias de convergĂŞncias e divergĂŞncias,
ordem e dispersões, transparência de estruturas,
pausas de areia e de água, fábulas minúsculas.

Geometria que respira errante e ritmada,
varandas verdes, direcções de primavera,
ramos em que se regressa ao espaço azul,
curvas vagarosas, pulsações de uma ordem
composta pelo vento em sinuosas palmas.

Um murmúrio de omissões, um cântico do ócio.
Eu vou contigo, voz silenciosa, voz serena.
Sou uma pequena folha na felicidade do ar.
Durmo desperto, sigo estes meandros volĂşveis.
É aqui, é aqui que se renova a luz.

ConfissĂŁo

É certo que me repito,
Ă© certo que me refuto
e que, decidido, hesito
no entra-e-sai de um minuto.

É certo que irresoluto
entre o velho e o novo rito
atiro Ă  cesta o absoluto
como inĂştil papelito.

É tão certo que me aperto
numa tenaz de mosquito
como Ă© trinta vezes certo
que me oculto no meu grito.

Certo, certo, certo, certo
que mais sinto que reflicto
as fábulas do deserto
do raciocĂ­nio infinito.

É tudo certo e prescrito
em nebuloso estatuto.
O homem, chamar-lhe mito
nĂŁo passa de anacoluto.

O Sonho

Amor querido, por nada menos que tu
Teria eu interrompido este sonho feliz:
Era um tema
Para a razĂŁo, demasiado forte para fantasia.
Portanto, sabiamente, me acordaste; porém
O meu sonho nĂŁo terminou, continuou contigo.
És tão verdadeira que bastam os pensamentos de ti
Para tornar sonhos realidade, fábulas em história.
Vem a meus braços, pois se pensaste ser melhor
Que nĂŁo sonhasse todo o meu sonho, concretizemos o resto.

Como o relâmpago, ou a luz da vela,
Teus olhos, e nĂŁo o teu ruĂ­do, me acordaram;
Porém pensei que eras
(Tu que amas a verdade) um Anjo — à primeira vista.
Mas quando vi que vias o meu coração
E os meus pensamentos, para além da arte do anjo,
Como sabias do meu sonho, como sabias quando
O excesso de gozo me acordaria, e entĂŁo vieste,
Devo confessar que no mĂ­nimo, seria
Ultrajante, pensar-te outra coisa que nĂŁo tu.

Vindo e ficando mostrou-me que tu Ă©s tu.
Mas o levantares-te faz-me duvidar, e temo agora
Que tu já não sejas tu.
E fraco o amor quando o medo Ă© tĂŁo forte como ele;

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