Poemas sobre Loucura de CecĂ­lia Meireles

3 resultados
Poemas de loucura de CecĂ­lia Meireles. Leia este e outros poemas de CecĂ­lia Meireles em Poetris.

Como se Morre de Velhice

Como se morre de velhice
ou de acidente ou de doença,
morro, Senhor, de indiferença.

Da indiferença deste mundo
onde o que se sente e se pensa
nĂŁo tem eco, na ausĂȘncia imensa.

Na ausĂȘncia, areia movediça
onde se escreve igual sentença
para o que é vencido e o que vença.

Salva-me, Senhor, do horizonte
sem estĂ­mulo ou recompensa
onde o amor equivale Ă  ofensa.

De boca amarga e de alma triste
sinto a minha própria presença
num céu de loucura suspensa.

(JĂĄ nĂŁo se morre de velhice
nem de acidente nem de doença,
mas, Senhor, só de indiferença.)

De Que SĂŁo Feitos os Dias?

De que sĂŁo feitos os dias?
– De pequenos desejos,
vagarosas saudades,
silenciosas lembranças.

Entre mĂĄgoas sombrias,
momentĂąneos lampejos:
vagas felicidades,
inactuais esperanças.

De loucuras, de crimes,
de pecados, de glĂłrias
– do medo que encadeia
todas essas mudanças.

Dentro deles vivemos,
dentro deles choramos,
em duros desenlaces
e em sinistras alianças…

Jornal, longe

Que faremos destes jornais, com telegramas, notĂ­cias,
anĂșncios, fotografias, opiniĂ”es…?

Caem as folhas secas sobre os longos relatos de guerra:
e o sol empalidece suas letras infinitas.

Que faremos destes jornais, longe do mundo e dos homens?
Este recado de loucura perde o sentido entre a terra e o céu.

De dia, lemos na flor que nasce e na abelha que voa;
de noite, nas grandes estrelas, e no aroma do campo serenado.

Aqui, toda a vizinhança proclama convicta:
“Os jornais servem para fazer embrulhos”.

E Ă© uma das raras vezes em que todos estĂŁo de acordo.