Poemas sobre Lugares de José Luís Peixoto

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Poemas de lugares de José Luís Peixoto. Leia este e outros poemas de José Luís Peixoto em Poetris.

na hora de pĂŽr a mesa, Ă©ramos cinco

na hora de pĂŽr a mesa, Ă©ramos cinco:
o meu pai, a minha mĂŁe, as minhas irmĂŁs
e eu. depois, a minha irmĂŁ mais velha
casou-se. depois, a minha irmĂŁ mais nova
casou-se. depois, o meu pai morreu. hoje,
na hora de pĂŽr a mesa, somos cinco,
menos a minha irmĂŁ mais velha que estĂĄ
na casa dela, menos a minha irmĂŁ mais
nova que estĂĄ na casa dela, menos o meu
pai, menos a minha mĂŁe viĂșva. cada um
deles Ă© um lugar vazio nesta mesa onde
como sozinho. mas irĂŁo estar sempre aqui.
na hora de pĂŽr a mesa, seremos sempre cinco.
enquanto um de nĂłs estiver vivo, seremos
sempre cinco.

arte poética

o poema nĂŁo tem mais que o som do seu sentido,
a letra p nĂŁo Ă© a primeira letra da palavra poema,
o poema Ă© esculpido de sentidos e essa Ă© a sua forma,
poema nĂŁo se lĂȘ poema, lĂȘ-se pĂŁo ou flor, lĂȘ-se erva
fresca e os teus lĂĄbios, lĂȘ-se sorriso estendido em mil
ĂĄrvores ou cĂ©u de punhais, ameaça, lĂȘ-se medo e procura
de cegos, lĂȘ-se mĂŁo de criança ou tu, mĂŁe, que dormes
e me fizeste nascer de ti para ser palavras que nĂŁo
se escrevem, LĂȘ-se paĂ­s e mar e cĂ©u esquecido e
memĂłria, lĂȘ-se silĂȘncio, sim tantas vezes, poema lĂȘ-se silĂȘncio,
lugar que nĂŁo se diz e que significa, silĂȘncio do teu
olhar doce de menina, silĂȘncio ao domingo entre as conversas,
silĂȘncio depois de um beijo ou de uma flor desmedida, silĂȘncio
de ti, pai, que morreste em tudo para sĂł existires nesse poema
calado, quem o pode negar?, que escreves sempre e sempre, em
segredo, dentro de mim e dentro de todos os que te sofrem.
o poema nĂŁo Ă© esta caneta de tinta preta, nĂŁo Ă© esta voz,

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