Poemas sobre Mar de Joaquim Pessoa

2 resultados
Poemas de mar de Joaquim Pessoa. Leia este e outros poemas de Joaquim Pessoa em Poetris.

Alexandra

HĂĄ pequenas aves que tĂȘm raĂ­zes nas palavras,
essas palavras que nĂŁo ficam arrumadas com decĂȘncia
na literatura,
palavras de amantes sem amor, gente que sofre
e a quem falta o ar quando faltam as palavras.
Quando digo o teu nome hĂĄ uma ave que levanta voo
como se tivesse nascido o dia e uma brisa
encarcerada nas amĂȘndoas se soltasse para a impelir
para o mais frio, para o mais alto, para o mais azul.
Quando volto para casa o teu nome vai comigo
e ao mesmo tempo espera-me jĂĄ
numa casa construĂ­da com dois nomes,
como se tivesse duas frentes,
uma para a montanha e outra para o mar.
Por vezes dou-te o meu nome e fico com o teu,
espreito entĂŁo pelas janelas de onde
se vĂȘem coisas que nunca antes tinha visto,
coisas que adivinhava mas que nĂŁo sabia,
coisas que sempre soube mas que nunca quis olhar.
Nessas alturas o meu nome Ă© o teu olhar,
e os meus olhos sĂŁo justamente a pronĂșncia do
teu nome que se diz com um pequeno brilho molhado,

Continue lendo…

Canção de Amor

Eu cantaria mesmo que tu nĂŁo existisses,
faria amor, assim, com as palavras.
Eu cantaria mesmo que tu nĂŁo existisses
porque haveria de doer-me a tua ausĂȘncia.

Por isso canto. Alegre ou triste, canto.
Como se, cantando, tocasse a tua boca,
ainda antes da tua presença.
Direi mesmo, depois da tua morte.

Eu cantaria mesmo que tu nĂŁo existisses,
Ăł minha amiga, doce companheira.
Eu festejo o teu corpo como um rio,
onde, exausto, chegarei ao mar.

Sim, eu cantaria mesmo que tu nĂŁo existisses,
porque nada eu direi sem o teu nome.
Porque nada existe além da tua vida,
da tua pele macia, dos teus olhos magoados.

Assim quero cantar-te, meu amor,
para além da morte, para além de tudo.