Poemas sobre Noite de Fernanda de Castro

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Poemas de noite de Fernanda de Castro. Leia este e outros poemas de Fernanda de Castro em Poetris.

Se os Poetas Dessem as MĂŁos

Se os Poetas dessem as mĂŁos
e fechassem o Mundo
no grande abraço da Poesia,
cairiam as grades das prisÔes
que nos tolhem os passos,
os arames farpados
que nos rasgam os sonhos,
os muros de silĂȘncio,
as muralhas da cĂłlera e do Ăłdio,
as barreiras do medo,
e o Dia, como um pĂĄssaro liberto,
desdobraria enfim as asas
sobre a Noite dos homens.

Se os Poetas dessem as mĂŁos
e fechassem o Mundo
no grande abraço da Poesia.

Meditação

Às vezes, quando a noite vem caindo,
Tranquilamente, sossegadamente,
Encosto-me Ă  janela e vou seguindo
A curva melancĂłlica do Poente.

NĂŁo quero a luz acesa. Na penumbra,
Pensa-se mais e pensa-se melhor.
A luz magoa os olhos e deslumbra,
E eu quero ver em mim, Ăł meu amor!

Para fazer exame de consciĂȘncia
Quero silĂȘncio, paz, recolhimento
Pois sĂł assim, durante a tua ausĂȘncia,
Consigo libertar o pensamento.

Procuro entĂŁo aniquilar em mim,
A nefasta influĂȘncia que domina
Os meus nervos cansados; mas por fim,
Reconheço que amar-te é minha sina.

Longe de ti atrevo-me a pensar
Nesse estranho rigor que me acorrenta:
E tenho a sensação do alto mar,
Numa noite selvagem de tormenta.

Tens no olhar magias de profeta
Que sabe ler no cĂ©u, no mar, nas brasas…
Adivinhas… Serei a borboleta
Que vendo a luz deixa queimar as asas.

No entanto — vĂȘ lĂĄ tu!— Eu nĂŁo lamento
Esta vontade que se impĂ”e Ă  minha…
Nem me revolto… cedo ao encantamento…
— Escrava que não soube ser Rainha!

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NĂŁo Fora o Mar!

NĂŁo fora o mar,
e eu seria feliz na minha rua,
neste primeiro andar da minha casa
a ver, de dia, o sol, de noite a lua,
calada, quieta, sem um golpe de asa.

NĂŁo fora o mar,
e seriam contados os meus passos,
tantos para viver, para morrer,
tantos os movimentos dos meus braços,
pequena angĂșstia, pequeno prazer.

NĂŁo fora o mar,
e os seus sonhos seriam sem violĂȘncia
como irisadas bolas de sabĂŁo,
efĂ©mero cristal, branca aparĂȘncia,
e o resto — pingos de água em minha mão.

NĂŁo fora o mar,
e este cruel desejo de aventura
seria vaga mĂșsica ao sol pĂŽr
nem sequer brasa viva, queimadura,
pouco mais que o perfume duma flor.

NĂŁo fora o mar
e o longo apelo, o canto da sereia,
apenas ilusĂŁo, miragem,
breve canção, passo breve na areia,
desejo balbuciante de viagem.

NĂŁo fora o mar
e, resignada, em vez de olhar os astros
tudo o que Ă© alto, inacessĂ­vel, fundo,
cimos, castelos, torres, nuvens, mastros,
iria de olhos baixos pelo mundo.

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