Poemas sobre Nus de Pedro Homem de Melo

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Poemas de nus de Pedro Homem de Melo. Leia este e outros poemas de Pedro Homem de Melo em Poetris.

EscĂĄrnio

O meu amor anda em fama.
Mesmo assim lhe quero bem.
Cegueira? Seja o que for!
Os olhos do meu amor
Não os vejo em mais ninguém.

Tentaram deitĂĄ-lo Ă  rua,
Mas abri-lhe a minha porta,
E a minha mĂŁo, toda nua,
Varreu toda a noite morta.
Porém, mil vozes, medonhas
Como pedaços de lama,
Segredaram-me vergonhas
Do meu amor que anda em fama.

Ai! a dor! — casa florida…
Ai! o amor! — casa cercada.

HĂĄ-de-se acabar a vida
Com a Ășltima pedrada!..

InocĂȘncia

De um lado, a veste; o corpo, do outro lado,
LĂ­mpido, nu, intacto, sem defesa…
Mitológico rosto debruçado
Na noite que, por ele, fica acesa!

Se traz os lĂĄbios hĂșmidos e lassos
É que a paixão sem mácula ainda o cega
E tatuou na curva de alvos braços
As sete letras da palavra: entrega.

Acre perfume o dessa flor agreste.
Álcool azul o desse verde vinho.
De um lado o corpo; do outro lado, a veste
Como luar deitado no caminho…

Em frente hĂĄ um pinheiro cismador.
O rio corre, vagaroso ao fundo.
Na estrada ninguĂ©m passa… Ai! tanto amor
Sem culpa!
Ai! dos Poetas deste mundo!

Os Amigos Infelizes

Andamos nus, apenas revestidos
Da mĂșsica inocente dos sentidos.

Como nuvens ou pĂĄssaros passamos
Entre o arvoredo, sem tocar nos ramos.

No entanto, em nĂłs, o canto Ă© quase mudo.
Nada pedimos. Recusamos tudo.

Nunca para vingar as prĂłprias dores
Tiramos sangue ao mundo ou vida Ă s flores.

E a noite chega! Ao longe, morre o dia…
A PĂĄtria Ă© o CĂ©u. E o CĂ©u, a Poesia…

E hĂĄ mĂŁos que vĂȘm poisar em nossos ombros
E somos o silĂȘncio dos escombros.

Ó meus irmãos! em todos os países,
Rezai pelos amigos infelizes!

Aleluia

Era a mulher — a mulher nua e bela,
Sem a impostura inĂștil do vestido
Era a mulher, cantando ao meu ouvido,
Como se a luz se resumisse nela…
Mulher de seios duros e pequenos
Com uma flor a abrir em cada peito.
Era a mulher com bĂ­blicos acenos
E cada qual para os meus dedos feito.
Era o seu corpo — a sua carne toda.
Era o seu porte, o seu olhar, seus braços:
Luar de noite e manancial de boda,
Boca vermelha de sorrisos lassos.
Era a mulher — a fonte permitida
Por Deus, pelos Poetas, pelo mundo…
Era a mulher e o seu amor fecundo
Dando a nĂłs, homens, o direito Ă  vida!