Passagens sobre Lábios

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A flecha deixa de pertencer ao arqueiro, quando abandona o arco; e a palavra já não pertence a quem a profere, uma vez que passe pelos lábios.

A Nada Imploram Tuas Mãos já Coisas

A nada imploram tuas mãos já coisas,
Nem convencem teus lábios já parados,
No abafo subterrâneo
Da Ăşmida imposta terra.

SĂł talvez o sorriso com que amavas
Te embalsama remota, e nas memĂłrias
Te ergue qual eras, hoje
Cortiço apodrecido.

E o nome inĂştil que teu corpo morto
Usou, vivo, na terra, como uma alma,
NĂŁo lembra. A ode grava,
AnĂ´nimo, um sorriso.

Quando o Meu Amor Vem Ter Comigo

quando o meu amor vem ter comigo Ă©
um pouco como mĂşsica,um
pouco mais como uma cor curvando-se(por exemplo
laranja)
contra o silĂŞncio,ou a escuridĂŁo….

a vinda do meu amor emite
um maravilhoso odor no meu pensamento,

devias ver quando a encontro
como a minha menor pulsação se torna menos.
E entĂŁo toda a beleza dela Ă© um torno

cujos quietos lábios me assassinam subitamente,

mas do meu cadáver a ferramenta o sorriso dela faz algo
subitamente luminoso e preciso

—e entĂŁo somos Eu e Ela….

o que Ă© isso que o realejo toca

Tradução de Cecília Rego Pinheiro

Rodopio

Volteiam dentro de mim,
Em rodopio, em novelos,
Milagres, uivos, castelos,
Forcas de luz, pesadelos,
Altas tĂ´rres de marfim.

Ascendem hĂ©lices, rastros…
Mais longe coam-me sois;
Há promontórios, farois,
Upam-se estátuas de herois,
Ondeiam lanças e mastros.

Zebram-se armadas de cĂ´r,
Singram cortejos de luz,
Ruem-se braços de cruz,
E um espelho reproduz,
Em treva, todo o esplendor…

Cristais retinem de mĂŞdo,
Precipitam-se estilhaços,
Chovem garras, manchas, laços…
Planos, quebras e espaços
Vertiginam em segrĂŞdo.

Luas de oiro se embebedam,
Rainhas desfolham lirios;
Contorcionam-se cĂ­rios,
Enclavinham-se delĂ­rios.
Listas de som enveredam…

Virgulam-se aspas em vozes,
Letras de fogo e punhais;
Há missas e bacanais,
Execuções capitais,
Regressos, apoteoses.

Silvam madeixas ondeantes,
Pungem lábios esmagados,
Há corpos emmaranhados,
Seios mordidos, golfados,
Sexos mortos de anseantes…

(Há incenso de esponsais,
Há mãos brancas e sagradas,
Há velhas cartas rasgadas,
Há pobres coisas guardadas –
Um lenço, fitas, dedais…)

Há elmos, troféus, mortalhas,
Emanações fugidias,

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Oração Da Noite

Ajoelhada, Ăł meu Deus, e as duas mĂŁos unidas,
Olhos fitos na Cruz, imploro a tua graça…
Esconde-me, Jesus! da treva que esvoaça
Na tristeza e no horror das noites mal dormidas,

Maria! Virgem mĂŁe das almas compungidas,
Sorriso no prazer, conforto na desgraça…
Recolhe essa oração que nos meus lábios passa
Em palavras de fé no teu amor ungidas.

Anjo de minha guarda, Ăł doce companheiro!
Tu que levas do berço ao porto derradeiro
O lĂşrido batel de meu sonhar sem fim,

Dá-me o sono que traz o bálsamo ao tormento,
Afoga o coração no mar do esquecimento…
Abre as asas, meu anjo, e estende-as sobre mim.

Visio

Eras pálida. E os cabelos,
Aéreos, soltos novelos,
Sobre as espáduas caĂ­am…
Os olhos meio cerrados
De volĂşpia e de ternura
Entre lágrimas luziam…
E os braços entrelaçados,
Como cingindo a ventura,
Ao teu seio me cingiam…

Depois, naquele delĂ­rio,
Suave, doce martĂ­rio
De pouquĂ­ssimos instantes,
Os teus lábios sequiosos,
Frios, trĂŞmulos, trocavam
Os beijos mais delirantes,
E no supremo dos gozos
Ante os anjos se casavam
Nossas almas palpitantes…

Depois… depois a verdade,
A fria realidade,
A solidĂŁo, a tristeza;
Daquele sonho desperto,
Olhei… silĂŞncio de morte
Respirava a natureza —
Era a terra, era o deserto,
Fora-se o doce transporte,
Restava a fria certeza.

Desfizera-se a mentira:
Tudo aos meus olhos fugira;
Tu e o teu olhar ardente,
Lábios trêmulos e frios,
O abraço longo e apertado,
O beijo doce e veemente;
Restavam meus desvarios,
E o incessante cuidado,
E a fantasia doente.

E agora te vejo. E fria
Tão outra estás da que eu via
Naquele sonho encantado!

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FrĂ­gida

I
Balzac Ă© meu rival, minha senhora inglesa!
Eu quero-a porque odeio as carnações redondas!
Mas ele eternizou-lhe a singular beleza
E eu turbo-me ao deter seus olhos cor das ondas.

II
Admiro-a. A sua longa e plácida estatura
Expõe a majestade austera dos invernos.
NĂŁo cora no seu todo a tĂ­mida candura;
Dançam a paz dos céus e o assombro dos infernos.

III
Eu vejo-a caminhar, fleumática, irritante,
Numa das mĂŁos franzindo um lençol de cambraia!…
Ninguém me prende assim, fúnebre, extravagante,
Quando arregaça e ondula a preguiçosa saia!

IV
Ouso esperar, talvez, que o seu amor me acoite,
Mas nunca a fitarei duma maneira franca;
Traz o esplendor do Dia e a palidez da Noite,
É, como o Sol, dourada, e, como a Lua, branca!

V
Pudesse-me eu prostar, num meditado impulso,
Ó gélida mulher bizarramente estranha,
E trêmulo depor os lábios no seu pulso,
Entre a macia luva e o punho de bretanha!…

VI
Cintila ao seu rosto a lucidez das jĂłias.
Ao encarar consigo a fantasia pasma;

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SolidĂŁo

Imensas noites de Inverno,
com frias montanhas mudas,
Ă© o mar negro, mais eterno,
mais terrĂ­vel, mais profundo.

(…)

A noite fecha seus lábios
– terra e cĂ©u – guardado nome.
E os seus longos sonhos sábios
geram a vida dos homens.

Geram os olhos incertos,
por onde descem os rios
que andam nos campos abertos
da claridade do dia.

Suprema Ironia

NĂŁo digas que nĂŁo sofro – o meu sofrer profundo
com um sorriso nos lábios muita vez apago…
A dor – Ă© coo a pedra que cai – vai pro fundo
sob a face serena e tranqĂĽila do lago…

Um segundo de pura alegria – um segundo
muitas vezes me basta, e já me dou por pago…
Se invejo, invejo aquele que nĂŁo tendo um mundo,
tem mundo para alĂ©m do olhar ardente e vago…

Que eu nĂŁo ando a dizer que sofro e me atormento!
É covardia a gente maldizer-se à toa
a viver esta vida entre um ai e um lamento…

Eu, nĂŁo! Bem sei que sofro, mas sofrer – que importa ?
Digo aos homens que o mundo Ă© belo, a vida Ă© boa!
E… suprema ironia… a minha voz conforta!

Sensual

Ainda sinto o teu corpo ao meu corpo colado;
nos lábios, a volúpia ardente do teu beijo;
no quarto a solidĂŁo, desnuda, ainda te vejo,
a olhar-me com olhar nervoso e apaixonado…

Partiste!… Mas no peito ainda sinto a ânsia e o latejo
daquele Ăşltimo abraço inquieto e demorado…
– Na quentura do espaço a transpirar pecado,
Ainda baila a figura estranha do desejo…

Não posso mais viver sem ter-te nos meus braços!
– Quando longe tu estás, minha alma se alvoroça
julgando ouvir no quarto o ruĂ­do dos teus passos…

Na lembrança revejo os momentos felizes,
e chego a acredita que a minha carne moça
na tua carne moça atĂ© criou raĂ­zes!…

Vendo-a Sorrir

(A minha filha)

Filha, quando sorris, iluminas a casa
Dum celeste esplendor.
A alegria é na infância o que na ave é asa
E perfume na flor.

Ă“ doirada alegria, Ăł virgindade santa
Do sorriso infantil!
Quando o teu lábio ri, filha, a minha alma canta
Todo o poema de Abril.

Ao ver esse sorriso, Ăł filha, se concentro
Em ti o meu olhar,
Engolfa-se-me o céu azul pela alma dentro
Com pombas a voar.

Sou o Sol que agoniza, e tu, meu anjo loiro,
És o Sol que se eleva.
Inunda-me de luz, sorri, polvilha de oiro
O meu manto de treva!

1A Sombra – Marieta

Como o gĂŞnio da noite, que desata
O véu de , rendas sobre a espádua nua,
Ela solta os cabelos… Bate a lua
Nas alvas dobras de um lençol de prata

O seio virginal que a mĂŁo recata,
Embalde o prende a mĂŁo… cresce, flu
Sonha a moça ao relento… AlĂ©m na
Preludia um violĂŁo na serenata!…

… Furtivos passos morrem no lajedo…
Resvala a escada do balcĂŁo discreta…
Matam lábios os beijos em segredo…

Afoga-me os suspiros, Marieta!
Oh surpresa! oh palor! oh pranto! oh medo!
Ai! noites de Romeu e Julieta…

Seria o Amor PortuguĂŞs

Muitas vezes te esperei, perdi a conta,
longas manhĂŁs te esperei tremendo
no patamar dos olhos. Que me importa
que batam à porta, façam chegar
jornais, ou cartas, de amizade um pouco
— tanto pó sobre os móveis tua ausência.

Se não és tu, que me pode importar?
Alguém bate, insiste através da madeira,
que me importa que batam Ă  porta,
a solidĂŁo Ă© uma espinha
insidiosamente alojada na garganta.
Um pássaro morto no jardim com neve.

Nada me importa; mas tu enfim me importas.
Importa, por exemplo, no sedoso
cabelo poisar estes lábios aflitos.
Por exemplo: destruir o silĂŞncio.
Abrir certas eclusas, chover em certos campos.
Importa saber da importância
que há na simplicidade final do amor.
Comunicar esse amor. Fertilizá-lo.
«Que me importa que batam Ă  porta…»
Sair de trás da própria porta, buscar
no amor a reconciliação com o mundo.

Longas manhĂŁs te esperei, perdi a conta.
Ainda bem que esperei longas manhĂŁs
e lhes perdi a conta, pois Ă© como se
no dia em que eu abrir a porta
do teu amor tudo seja novo,

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Mudez Perversa

Que mudez infernal teus lábios cerra
Que ficas vago, para mim olhando,
Na atitude de pedra, concentrando
No entanto, n’alma, convulsões de guerra!

A mim tal fel essa mudez encerra,
Tais demônios revéis a estão forjando
Que antes te visse morto, desabando
Sobre o teu corpo grossas pás de terra.

NĂŁo te quisera nesse atroz e sumo
Mutismo horrĂ­vel que nĂŁo gera nada,
Que nĂŁo diz nada, nĂŁo tem fundo e rumo.

Mutismo de tal dor desesperada,
Que quando o vou medir com o estranho prumo
Da alma fico com a alma alucinada!

Regenerada

De mĂŁos postas, Ă  luz de frouxos cĂ­rios
Rezas para as Estrelas do Infinito,
Para os Azuis dos siderais EmpĂ­reos
Das Orações o doloroso rito.

Todos os mais recĂ´nditos martĂ­rios,
As angústias mortais, teu lábio aflito
Soluça, em preces de luar e lírios,
Num trĂŞmulo de frases inaudito.

Olhos, braços e lábios, mãos e seios,
Presos, d’estranhos, mĂ­sticos enleios,
Já nas Mágoas estão divinizados.

Mas no teu vulto ideal e penitente
Parece haver todo o calor veemente
Da febre antiga de gentis Pecados.

Primeira Palavra

Aproxima o teu coração
e inclina o teu sangue
para que eu recolha
os teus inacessĂ­veis frutos
para que prove da tua água
e repouse na tua fronte
Debruça o teu rosto
sobre a terra sem vestĂ­gio
prepara o teu ventre
para a anunciada visita
até que nos lábios humedeça
a primeira palavra do teu corpo

Minh’alma Está Agora Penetrando

Minh’alma está agora penetrando
Lá na etérea plaga, cristalina!
Que mĂşsica meu Deus febril, divina
Nos páramos azuis vai retumbando!

AlĂ©m, d’áureo dossel se está rasgando
Custosa, de primor, esmeraldina
Diáfana, sutil, longa cortina
Enquanto céus se vão duplando!

Em grande pedestal marmorizado
De Paiva se divisa o busto enorme
Soberbo como o sol, de luz croado

De um lado o porvir — Antheu disforme
Dos lábios faz soltar pujante brado
Hosanas! nĂŁo morreu! apenas dorme.

a teia do olhar

as duas mĂŁos no rosto

descrevo-te o silêncio sob os lábios
juntos
agora celebrando as delicadas sedes
e rindo sobre a haste
onde a saliva tarda

o tacto Ă© uma arma onde o esplendor devora
os sinuosos dedos
e paira sobre o ardor
onde incendeio os pulsos

o amor é uma dança
a demolir-me o peito