Passagens sobre Lábios

306 resultados
Frases sobre lábios, poemas sobre lábios e outras passagens sobre lábios para ler e compartilhar. Leia as melhores citações em Poetris.

Sensual

Ainda sinto o teu corpo ao meu corpo colado;
nos lábios, a volúpia ardente do teu beijo;
no quarto a solidĂŁo, desnuda, ainda te vejo,
a olhar-me com olhar nervoso e apaixonado…

Partiste!… Mas no peito ainda sinto a ânsia e o latejo
daquele Ăşltimo abraço inquieto e demorado…
– Na quentura do espaço a transpirar pecado,
Ainda baila a figura estranha do desejo…

Não posso mais viver sem ter-te nos meus braços!
– Quando longe tu estás, minha alma se alvoroça
julgando ouvir no quarto o ruĂ­do dos teus passos…

Na lembrança revejo os momentos felizes,
e chego a acredita que a minha carne moça
na tua carne moça atĂ© criou raĂ­zes!…

Vendo-a Sorrir

(A minha filha)

Filha, quando sorris, iluminas a casa
Dum celeste esplendor.
A alegria é na infância o que na ave é asa
E perfume na flor.

Ă“ doirada alegria, Ăł virgindade santa
Do sorriso infantil!
Quando o teu lábio ri, filha, a minha alma canta
Todo o poema de Abril.

Ao ver esse sorriso, Ăł filha, se concentro
Em ti o meu olhar,
Engolfa-se-me o céu azul pela alma dentro
Com pombas a voar.

Sou o Sol que agoniza, e tu, meu anjo loiro,
És o Sol que se eleva.
Inunda-me de luz, sorri, polvilha de oiro
O meu manto de treva!

1A Sombra – Marieta

Como o gĂŞnio da noite, que desata
O véu de , rendas sobre a espádua nua,
Ela solta os cabelos… Bate a lua
Nas alvas dobras de um lençol de prata

O seio virginal que a mĂŁo recata,
Embalde o prende a mĂŁo… cresce, flu
Sonha a moça ao relento… AlĂ©m na
Preludia um violĂŁo na serenata!…

… Furtivos passos morrem no lajedo…
Resvala a escada do balcĂŁo discreta…
Matam lábios os beijos em segredo…

Afoga-me os suspiros, Marieta!
Oh surpresa! oh palor! oh pranto! oh medo!
Ai! noites de Romeu e Julieta…

Seria o Amor PortuguĂŞs

Muitas vezes te esperei, perdi a conta,
longas manhĂŁs te esperei tremendo
no patamar dos olhos. Que me importa
que batam à porta, façam chegar
jornais, ou cartas, de amizade um pouco
— tanto pó sobre os móveis tua ausência.

Se não és tu, que me pode importar?
Alguém bate, insiste através da madeira,
que me importa que batam Ă  porta,
a solidĂŁo Ă© uma espinha
insidiosamente alojada na garganta.
Um pássaro morto no jardim com neve.

Nada me importa; mas tu enfim me importas.
Importa, por exemplo, no sedoso
cabelo poisar estes lábios aflitos.
Por exemplo: destruir o silĂŞncio.
Abrir certas eclusas, chover em certos campos.
Importa saber da importância
que há na simplicidade final do amor.
Comunicar esse amor. Fertilizá-lo.
«Que me importa que batam Ă  porta…»
Sair de trás da própria porta, buscar
no amor a reconciliação com o mundo.

Longas manhĂŁs te esperei, perdi a conta.
Ainda bem que esperei longas manhĂŁs
e lhes perdi a conta, pois Ă© como se
no dia em que eu abrir a porta
do teu amor tudo seja novo,

Continue lendo…

Mudez Perversa

Que mudez infernal teus lábios cerra
Que ficas vago, para mim olhando,
Na atitude de pedra, concentrando
No entanto, n’alma, convulsões de guerra!

A mim tal fel essa mudez encerra,
Tais demônios revéis a estão forjando
Que antes te visse morto, desabando
Sobre o teu corpo grossas pás de terra.

NĂŁo te quisera nesse atroz e sumo
Mutismo horrĂ­vel que nĂŁo gera nada,
Que nĂŁo diz nada, nĂŁo tem fundo e rumo.

Mutismo de tal dor desesperada,
Que quando o vou medir com o estranho prumo
Da alma fico com a alma alucinada!

Regenerada

De mĂŁos postas, Ă  luz de frouxos cĂ­rios
Rezas para as Estrelas do Infinito,
Para os Azuis dos siderais EmpĂ­reos
Das Orações o doloroso rito.

Todos os mais recĂ´nditos martĂ­rios,
As angústias mortais, teu lábio aflito
Soluça, em preces de luar e lírios,
Num trĂŞmulo de frases inaudito.

Olhos, braços e lábios, mãos e seios,
Presos, d’estranhos, mĂ­sticos enleios,
Já nas Mágoas estão divinizados.

Mas no teu vulto ideal e penitente
Parece haver todo o calor veemente
Da febre antiga de gentis Pecados.

Primeira Palavra

Aproxima o teu coração
e inclina o teu sangue
para que eu recolha
os teus inacessĂ­veis frutos
para que prove da tua água
e repouse na tua fronte
Debruça o teu rosto
sobre a terra sem vestĂ­gio
prepara o teu ventre
para a anunciada visita
até que nos lábios humedeça
a primeira palavra do teu corpo

Minh’alma Está Agora Penetrando

Minh’alma está agora penetrando
Lá na etérea plaga, cristalina!
Que mĂşsica meu Deus febril, divina
Nos páramos azuis vai retumbando!

AlĂ©m, d’áureo dossel se está rasgando
Custosa, de primor, esmeraldina
Diáfana, sutil, longa cortina
Enquanto céus se vão duplando!

Em grande pedestal marmorizado
De Paiva se divisa o busto enorme
Soberbo como o sol, de luz croado

De um lado o porvir — Antheu disforme
Dos lábios faz soltar pujante brado
Hosanas! nĂŁo morreu! apenas dorme.

a teia do olhar

as duas mĂŁos no rosto

descrevo-te o silêncio sob os lábios
juntos
agora celebrando as delicadas sedes
e rindo sobre a haste
onde a saliva tarda

o tacto Ă© uma arma onde o esplendor devora
os sinuosos dedos
e paira sobre o ardor
onde incendeio os pulsos

o amor é uma dança
a demolir-me o peito

A Jovem Cativa

(André Chenier)

— “Respeita a foice a espiga que desponta;
Sem receio ao lagar o tenro pâmpano
Bebe no estio as lágrimas da aurora;
Jovem e bela também sou; turvada
A hora presente de infortúnio e tédio
Seja embora: morrer nĂŁo quero ainda!

De olhos secos o estĂłico abrace a morte;
Eu choro e espero; ao vendaval que ruge
Curvo e levanto a tímida cabeça.
Se há dias maus, também os há felizes!
Que mel nĂŁo deixa um travo de desgosto?
Que mar nĂŁo incha a um temporal desfeito?

Tu, fecunda ilusĂŁo, vives comigo.
Pesa em vão sobre mim cárcere escuro,
Eu tenho, eu tenho as asas da esperança:
Escapa da prisĂŁo do algoz humano,
Nas campinas do céu, mais venturosa,
Mais viva canta e rompe a filomela.

Deve acaso morrer ? TranqĂĽila durmo,
TranqĂĽila velo; e a fera do remorso
NĂŁo me perturba na vigĂ­lia ou sono;
Terno afago me ri nos olhos todos
Quando apareço, e as frontes abatidas
Quase reanima um desusado jĂşbilo.

Desta bela jornada Ă© longe o termo.

Continue lendo…

O Amor, Meu Amor

Nosso amor Ă© impuro
como impura é a luz e a água
e tudo quanto nasce
e vive além do tempo.

Minhas pernas são água,
as tuas sĂŁo luz
e dĂŁo a volta ao universo
quando se enlaçam
até se tornarem deserto e escuro.
E eu sofro de te abraçar
depois de te abraçar para não sofrer.

E toco-te
para deixares de ter corpo
e o meu corpo nasce
quando se extingue no teu.

E respiro em ti
para me sufocar
e espreito em tua claridade
para me cegar,
meu Sol vertido em Lua,
minha noite alvorecida.

Tu me bebes
e eu me converto na tua sede.
Meus lábios mordem,
meus dentes beijam,
minha pele te veste
e ficas ainda mais despida.

Pudesse eu ser tu
E em tua saudade ser a minha prĂłpria espera.

Mas eu deito-me em teu leito
Quando apenas queria dormir em ti.

E sonho-te
Quando ansiava ser um sonho teu.

E levito, voo de semente,

Continue lendo…

O Primeiro Filho

(Carta ao amigo Bernardo Pindela)

Entre tanta miséria e tantas coisas vis
Deste vil grĂŁo de areia,
Ainda tenho o condĂŁo de me sentir feliz
Com a ventura alheia.

Ă€ minha noite triste, Ă  noite tormentosa,
Onde busco a verdade,
Chegou com asas d’oiro a canção cor-de-rosa
Da tua felicidade.

És pai, viste nascer um fragmento d’aurora
Da tua alma, de ti…
Oh, momento divino em que o sorriso chora,
E em que o pranto sorri!

Que ventura radiante! oh que ventura infinda!
OlĂ­mpicos amores
Ter frutos em Abril com o vergel ainda
Carregado de flores!

Deslumbramento!… ver num berço o teu futuro
Sorrindo ao teu presente!…
Ter a mulher e a mĂŁe: juntar o beijo puro
Com o beijo inocente!…

Eu que vou, javali de flanco ensanguentado,
Pelos rudes caminhos
Ajoelho quando escuto Ă  beira dum valado
Os murmĂşrios dos ninhos!

Em tudo que alvorece há um sorriso d’esperança,
Candura imaculada!…
E quer seja na flor, quer seja na criança
Sente-se a madrugada.

Quando,

Continue lendo…

Só os Lábios Respiram

Só os lábios respiram. Simples gesto vivo,
exĂ­lio do som onde se oculta o pavor da
palavra, pátria salgada cerrada no vazio
da casa de velhos deuses ávidos de preces.
Na garra da águia se fecha e rompe a boca,
templo e entranha, prodĂ­gio e anel
do eco, sinal esparso do caĂ­do concerto
da vida. Por estes soberbos montes, estas
rasas colinas, estas águas circulantes,
vai o grito da cegueira, o delĂ­rio lasso
na manhĂŁ, a saciada loucura do escuro
nome nocturno. Como um fragor dos céus,
caminha o canto agudo das árduas cigarras
perseguindo a funesta morte. Por esta
paisagem parda, que lábios me guardam
do próximo desastre, a mudança em ave,
cio ou sal, erva ou peixe, cicatriz ou
mito, veia ou água? Que lábios respiram
na coisa mortal que serei apĂłs o termo
da eterna efemeridade deste meu corpo,
coma de luz, deste desejo, rijo resĂ­duo,
deste pensamento, disfarce ou máscara,
deste rapto do tempo, deste
coração que começa?

Diário duma Mulher

Meu rosto já tem vincos de cansaço.
Murcharam como as rosas minhas faces.
Já não posso estreitar-te num abraço,
sem temer, meu Amor, que nĂŁo me abraces!

O luar nos meus olhos fez-se baço.
Meus lábios, se algum dia tu beijasses!…
Meu passado, porém, morreu no espaço,
qual nuvem que em chuvisco transformasses!

O futuro nĂŁo tem de que viver.
O amor — raízes mortas que não nascem —,
os sonhos, estĂŁo como se embarcassem

num cruzeiro de calma, sem saber
que o Ă©… Mas essa calma hoje Ă© sinĂłnimo
de um sentimento misterioso, anĂłnimo…

Como Queiras, Amor…

Como queiras, Amor, como tu queiras.
Entregue a ti, a tudo me abandono,
seguro e certo, num terror tranquilo.
A tudo quanto espero e quanto temo,
entregue a ti, Amor, eu me dedico.

Nada há que eu não conheça, que eu não saiba,
e nada, não, ainda há por que eu não espere
como de quem ser vida Ă© ter destino.

As pequeninas coisas da maldade, a fria
tĂŁo tenebrosa divisĂŁo do medo
em que os homens se mordem com rosnidos
de malcontente crueldade imunda,
eu sei quanto me aguarda, me deseja,
e sei até quanto ela a mim me atrai.

Como queiras, Amor, como tu queiras.
De frágil que és, não poderás salvar-me.
Tua nobreza, essa ternura tépida
quais olhos marejados, carne entreaberta,
será só escárneo, ou, pior, um vão sorriso
em lábios que se fecham como olhares de raiva.
Não poderás salvar-me, nem salvar-te.
Apenas como queiras ficaremos vivos.

Será mais duro que morrer, talvez.
Entregue a ti, porém, eu me dedico
Ă quele amor por qual fui homem, posse
e uma tão extrema sujeição de tudo.

Continue lendo…

Amo-te Sempre

Amo-te sempre
com um pouco de barco e de vento
com uma humildade de mar Ă  tua volta
dentro do meu corpo; com o desespero
de ser tempo;

com um pouco de sol e uma fonte
adormecida na ternura.

Merecer este minuto de palavras habitando
o que há sem fim no teu retrato;
Este mesmo minuto em que chegam e partem navios
– nesta mesma cidade deste
minuto, desta lĂ­ngua, deste
romance diário dos teus olhos –

(e chegarĂŁo com armas? refugiados? trigo?
partirão com noivas? missionários? guerras? discursos?)

Merecer a densa beleza do teu corpo
que tem água e ternura, células, penumbra,
que dormiu no berço, dormiu na memória,
que teve soluços, febre, e absurdos desejos
maiores que os braços,

merecer os dias subindo das florestas – e vĂŞm
banhar-se, lentos, nos teus olhos…

Merecer a Igreja, o ajoelhar das palavras,
entre estes cinemas visitando, em duas horas, a alma,
estes eléctricos parando atrás do infinito
para subirem os namorados, a viĂşva, o cobrador da luz, a
costureira
entre estes homens que ganham dinheiro,

Continue lendo…

Timidez

Eu sei que Ă© sempre assim, – longe dela imagino
mil versos que nĂŁo fiz mas que ainda hei de compor,
perto dela, – meu Deus!… lembro mais um menino
que esquecesse a lição diante do professor…

Penso, que a minha voz terá sons de violino
enchendo os seus ouvidos de canções de amor,
– e hei de deixá-la tonta ao vinho doce e fino
dos meus beijos, no instante em que minha ela for…

Ao seu lado, no entanto, encabulado, emudeço,
e se os seus lábios frios, trêmulos, se calam,
eu, de tudo, das cousas, de mim mesmo, esqueço…

E ficamos assim, ela em silĂŞncio… eu, mudo…
Mas meus olhos, nem sei… ah! Quantas cousas falam!
e seus olhos, seus olhos!… dizem tudo, tudo!

Estátua

Cansei-me de tentar o teu segredo:
No teu olhar sem cor, de frio escalpelo,
O meu olhar quebrei, a debatĂŞ-lo,
Como a onda na crista dum rochedo.

Segredo dessa alma e meu degredo
E minha obsessĂŁo! Para bebĂŞ-lo
Fui teu lábio oscular, num pesadelo,
Por noites de pavor, cheio de medo.

E o meu Ăłsculo ardente, alucinado,
Esfriou sobre o mármore correto
Desse entreaberto lábio gelado…

Desse lábio de mármore, discreto,
Severo como um tĂşmulo fechado,
Sereno como um pélago quieto.

Canção à Ausente

Para te amar ensaiei os meus lábios…
Deixei de pronunciar palavras duras.
Para te amar ensaiei os meus lábios!

Para tocar-te ensaiei os meus dedos…
Banhei-os na água límpida das fontes.
Para tocar-te ensaiei os meus dedos!

Para te ouvir ensaiei meus ouvidos!
Pus-me a escutar as vozes do silĂŞncio…
Para te ouvir ensaiei meus ouvidos!

E a vida foi passando, foi passando…
E, à força de esperar a tua vinda,
De cada braço fiz mudo cipreste.

A vida foi passando, foi passando…
E nunca mais vieste!