Poemas sobre PaixĂŁo de Almada Negreiros

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Poemas de paixĂŁo de Almada Negreiros. Leia este e outros poemas de Almada Negreiros em Poetris.

Primavera

O sol vae esmolando os campos com bĂ´dos de oiro.

A pastorinha aquecida vae de corrida a mendigar a sombra do chorĂŁo corcunda, poeta romantico que tem paixĂŁo p’la fonte.

Espreita os campos, e os campos despovoados dão-lhe licença para ficar núa. Que leves arrepios ao refrescar-se nas aguas! Depois foi de vez, meteu-se no tanque e foi espojar-se na relva, a seccar-se ao sol. Mas o vento que vinha de lá das Azenhas-do-Mar, trazia peccados
comsigo. Sentiu desejos de dar um beijo no filho do Senhor Morgado. E lembrou-se logo do beijo da horta no dia da feira. Fechou os olhos a cegar-se do mau pensamento, mas foi lembrar-se do
proprio Senhor Morgado á meia noite ao entrar na adega. Abanou a fronte para lhe fugir o peccado, mas foi dar comsigo na sachristia a deixar o Senhor Prior beijar-lhe a mĂŁo, e depois a testa… porque Deus Ă© bom e perdĂ´a tudo… e depois as faces e depois a bocca e depois… fugiu… NĂŁo devia ter fugido… E agora o moleiro, lá no arraial, bailando com ella e sem querer, coitado, foi ter ao moinho ainda a bailar com ella. E lembra-se ainda –

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Ciumes

Pierrot dorme sobre a relva junto ao lago. Os cisnes junto d’elle passam sĂŞde, nĂŁo n’o acordem ao beber.

Uma andorinha travĂŞssa, linda como todas, avĂ´a brincando rente á relva e beija ao passar o nariz de Pierrot. Elle accorda e a andorinha, fugindo a muito, olha de medo atraz, nĂŁo venha o Pierrot de zangado persegui-la pelos campos. E a andorinha perdia-se nos montes, mas, porque elle se queda, de nĂ´vo volta em zig-zags travĂŞssos e chilreios de troça. E chilreia de troça, muito alto, por cima d’elle. Pierrot já se adormecia, e a andorinha em descida que faz calafrios pousou-lhe no peito duas ginjas bicadas, e fugiu de nĂ´vo.

De contente, ergueu-se sorrindo e de joelhos, braços erguidos, seus olhos foram tão longe, tão longe como a andorinha fugida nos montes.

De repente viu-se cego – os dedos finissimos da Colombina brincavam com elle. Desceu-lhe os dedos aos labios e trocou com beijos o arĂ´ma das palmas perfumadas. Depois dependurou-lhe de cada orelha uma ginja, á laia de brincos com joias de carmim. Rolaram-se na relva e uniram as boccas, e já se esqueciam de que as tinham juntas…

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