Poemas sobre Palavras de CecĂ­lia Meireles

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Poemas de palavras de CecĂ­lia Meireles. Leia este e outros poemas de CecĂ­lia Meireles em Poetris.

Nas Águas Vosso Amor Ponde

A palavra que te disse,
talvez por ser tĂŁo pequena,
em tais desprezos perdeu-se
que nĂŁo deixou nem pena.

Murmurei-a a uma cisterna
de turvas ĂĄguas antigas
e foi-se de cova em cova
em mĂșltiplas cantigas.

Amadores deste mundo,
nas ĂĄguas vosso amor ponde;
que elas vos darĂŁo resposta,
quando ninguém responde.

Sem Corpo Nenhum

Sem corpo nenhum,
como te hei de amar?
— Minha alma, minha alma,
tu mesma escolheste
esse doce mal!

Sem palavra alguma,
como o hei de saber?
— Minha alma, minha alma,
tu mesma desejas
o que nĂŁo se vĂȘ!

Nenhuma esperança
me dĂĄs, nem te dou:
— Minha alma, minha alma,
eis toda a conquista
do mais longo amor!

O Tempo Seca o Amor

O tempo seca a beleza,
seca o amor, seca as palavras.
Deixa tudo solto, leve,
desunido para sempre
como as areias nas ĂĄguas.

O tempo seca a saudade,
seca as lembranças e as lågrimas.
Deixa algum retrato, apenas,
vagando seco e vazio
como estas conchas das praias.

O tempo seca o desejo
e suas velhas batalhas.
Seca o frĂĄgil arabesco,
vestĂ­gio do musgo humano,
na densa turfa mortuĂĄria.

Esperarei pelo tempo
com suas conquistas ĂĄridas.
Esperarei que te seque,
nĂŁo na terra, Amor-Perfeito,
num tempo depois das almas.

Timidez

Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve. . .

— mas só esse eu não farei.

Uma palavra caĂ­da
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes..

— palavra que não direi.

Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,

— que amargamente inventei.

E, enquanto nĂŁo me descobres,
os mundos vĂŁo navegando
nos ares certos do tempo,
atĂ© nĂŁo se sabe quando…

— e um dia me acabarei.