Poemas sobre Seios de Machado de Assis

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Musa dos Olhos Verdes

Musa dos olhos verdes, musa alada,
Ó divina esperança,
Consolo do anciĂŁo no extremo alento,
E sonho da criança;

Tu que junto do berço o infante cinges
C’os fĂșlgidos cabelos;
Tu que transformas em dourados sonhos
Sombrios pesadelos;

Tu que fazes pulsar o seio Ă s virgens;
Tu que Ă s mĂŁes carinhosas
Enches o brando, tépido regaço
Com delicadas rosas;

Casta filha do céu, virgem formosa
Do eterno devaneio,
SĂȘ minha amante, os beijos meus recebe,
Acolhe-me em teu seio!

JĂĄ cansada de encher lĂąnguidas flores
Com as lĂĄgrimas frias,
A noite vĂȘ surgir do oriente a aurora
Dourando as serranias.

Asas batendo Ă  luz que as trevas rompe,
Piam noturnas aves,
E a floresta interrompe alegremente
Os seus silĂȘncios graves.

Dentro de mim, a noite escura e fria
MelancĂłlica chora;
Rompe estas sombras que o meu ser povoam;
Musa, sĂȘ tu a aurora!

A Elvira

(Lamartine)

Quando, contigo a sĂłs, as mĂŁos unidas,
Tu, pensativa e muda; e eu, namorado,
Às volĂșpias do amor a alma entregando,
Deixo correr as horas fugidias;
Ou quando ‘as solidĂ”es de umbrosa selva
Comigo te arrebato; ou quando escuto
—Tão só eu, — teus terníssimos suspiros;
E de meus lĂĄbios solto
Eternas juras de constĂąncia eterna;
Ou quando, enfim, tua adorada fronte
Nos meus joelhos trĂȘmulos descansa,
E eu suspendo meus olhos em teus olhos,
Como Ă s folhas da rosa ĂĄvida abelha;
Ai, quanta vez entĂŁo dentro em meu peito
Vago terror penetra, como um raio!
Empalideço, tremo;
E no seio da glĂłria em que me exalto,
LĂĄgrimas verto que a minha alma assombram!
Tu, carinhosa e trĂȘmula,
Nos teus braços me cinges, — e assustada,
Interrogando em vĂŁo, comigo choras!
“Que dor secreta o coração te oprime?”
Dizes tu, “Vem, confia os teus pesares…
Fala! eu abrandarei as penas tuas!
Fala! Eu consolarei tua alma aflita.”

Vida do meu viver, nĂŁo me interrogues!
Quando enlaçado nos teus níveos braços*
A confissão de amor te ouço,

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Menina e Moça

EstĂĄ naquela idade inquieta e duvidosa,
Que nĂŁo Ă© dia claro e Ă© jĂĄ o alvorecer;
Entreaberto botĂŁo, entrefechada rosa,
Um pouco de menina e um pouco de mulher.

Às vezes recatada, outras estouvadinha,
Casa no mesmo gesto a loucura e o pudor;
Tem coisas de criança e modos de mocinha,
Estuda o catecismo e lĂȘ versos de amor.

Outras vezes valsando, e* seio lhe palpita,
De cansaço talvez, talvez de comoção.
Quando a boca vermelha os lĂĄbios abre e agita,
Não sei se pede um beijo ou faz uma oração.

Outras vezes beijando a boneca enfeitada,
Olha furtivamente o primo que sorri;
E se corre parece, Ă  brisa enamorada,
Abrir asas de um anjo e tranças de uma huri.

Quando a sala atravessa, Ă© raro que nĂŁo lance
Os olhos para o espelho; e raro que ao deitar
NĂŁo leia, um quarto de hora, as folhas de um romance
Em que a dama conjugue o eterno verbo amar.

Tem na alcova em que dorme, e descansa de dia,
A cama da boneca ao pé do toucador;

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Stella

JĂĄ raro e mais escasso
A noite arrasta o manto,
E verte o Ășltimo pranto
Por todo o vasto espaço.

TĂ­bio clarĂŁo jĂĄ cora
A tela do horizonte,
E jĂĄ de sobre o monte
Vem debruçar-se a aurora.

À muda e torva irmã,
Dormida de cansaço,
Lå vem tomar o espaço
A virgem da manhĂŁ.

Uma por uma, vĂŁo
As pĂĄlidas estrelas,
E vĂŁo, e vĂŁo com elas
Teus sonhos, coração.

Mas tu, que o devaneio
Inspiras do poeta,
NĂŁo vĂȘs que a vaga inquieta
Abre-te o Ășmido seio?

Vai. Radioso e ardente,
Em breve o astro do dia,
Rompendo a névoa fria,
VirĂĄ do roxo oriente.

Dos Ă­ntimos sonhares
Que a noite protegera,
De tanto que eu vertera
Em lĂĄgrimas a pares,

Do amor silencioso,
MĂ­stico, doce, puro,
Dos sonhos de futuro,
Da paz, do etéreo gozo,

De tudo nos desperta
Luz de importuno dia;
Do amor que tanto a enchia
Minha alma estĂĄ deserta.

A virgem da manhĂŁ
JĂĄ todo o cĂ©u domina…

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FĂ©

As oraçÔes dos homens
Subam eternamente aos teus ouvidos;
Eternamente aos teus ouvidos soem
Os cĂąnticos da terra.

No turvo mar da vida,
Onde aos parcéis do crime a alma naufraga,
A derradeira bĂșssola nos seja,
Senhor, tua palavra.

A melhor segurança
Da nossa Ă­ntima paz, Senhor, Ă© esta;
Esta a luz que hĂĄ de abrir Ă  estĂąncia eterna
O fulgido caminho.

Ah ! feliz o que pode,
No extremo adeus Ă s cousas deste mundo,
Quando a alma, despida de vaidade,
VĂȘ quanto vale a terra;

Quando das glĂłrias frias
Que o tempo dĂĄ e o mesmo tempo some,
Despida já, — os olhos moribundos
Volta Ă s eternas glĂłrias;

Feliz o que nos lĂĄbios,
No coração, na mente pÔe teu nome,
E sĂł por ele cuida entrar cantando
No seio do infinito.

A Caridade

Ela tinha no rosto uma expressĂŁo tĂŁo calma
Como o sono inocente e primeiro de uma alma
Donde nĂŁo se afastou ainda o olhar de Deus;
Uma serena graça, uma graça dos céus* *,
Era-lhe o casto, o brando, o delicado andar,
E nas asas da brisa iam-lhe a ondear
Sobre o gracioso colo as delicadas tranças.

Levava pela mão duas gentis crianças.

Ia caminho. A um lado ouve magoado pranto.
Parou. E na ansiedade ainda o mesmo encanto
Descia-lhe às feiçÔes. Procurou. Na calçada
À chuva, ao ar, ao sol, despida, abandonada
A infĂąncia lacrimosa, a infĂąncia desvalida,
Pedia leito e pĂŁo, amparo, amor, guarida.

E tu, Ăł Caridade, Ăł virgem do Senhor,
No amoroso seio as crianças tomaste,
E entre beijos – só teus — o pranto lhes secaste
Dando-lhes leito e pĂŁo, guarida e amor.

Musa Consolatrix

Que a mĂŁo do tempo e o hĂĄlito dos homens
Murchem a flor das ilusÔes da vida,
Musa consoladora,
É no teu seio amigo e sossegado
Que o poeta respira o suave sono.

NĂŁo hĂĄ, nĂŁo hĂĄ contigo,
Nem dor aguda, nem sombrios ermos;
Da tua voz os namorados cantos
Enchem, povoam tudo
De Ă­ntima paz, de vida e de conforto.

Ante esta voz que as dores adormece,
E muda o agudo espinho em flor cheirosa,
Que vales tu, desilusĂŁo dos homens?
Tu que podes, Ăł tempo?
A alma triste do poeta sobrenada
À enchente das angĂșstias;
E, afrontando o rugido da tormenta,
Passa cantando, alcĂ­one divina.

Musa consoladora,
Quando da minha fronte de mancebo
A Ășltima ilusĂŁo cair, bem como
Folha amarela e seca
Que ao chão atira a viração do outono,
Ah! no teu seio amigo
Acolhe-me, — e terá minha alma aflita,
Em vez de algumas ilusÔes que teve,
A paz, o Ășltimo bem, Ășltimo e puro!

O Verme

Existe uma flor que encerra
Celeste orvalho e perfume.
Plantou-a em fecunda terra
Mão benéfica de um nume.

Um verme asqueroso e feio,
Gerado em lodo mortal,
Busca esta flor virginal
E vai dormir-lhe no seio.

Morde, sangra, rasga e mina,
Suga-lhe a vida e o alento;
A flor o cĂĄlix inclina;
As folhas, leva-as o vento,

Depois, nem resta o perfume
Nos ares da solidĂŁo…
Esta flor é o coração,
Aquele verme o ciĂșme.

As Rosas

Rosas que desabrochais,
Como os primeiros amores,
Aos suaves resplendores
Matinais;

Em vĂŁo ostentais, em vĂŁo,
A vossa graça suprema;
De pouco vale; Ă© o diadema
Da ilusĂŁo.

Em vĂŁo encheis de aroma o ar da tarde;
Em vĂŁo abris o seio Ășmido e fresco
Do sol nascente aos beijos amorosos;
Em vĂŁo ornais a fronte Ă  meiga virgem;
Em vĂŁo, como penhor de puro afeto,
Como um elo das almas,
Passais do seio amante ao seio amante;
LĂĄ bate a hora infausta
Em que é força morrer; as folhas lindas
Perdem o viço da manhã primeira,
As graças e o perfume.
Rosas que sois então? – Restos perdidos,
Folhas mortas que o tempo esquece, e espalha
Brisa do inverno ou mĂŁo indiferente.

Tal Ă© o vosso destino,
Ó filhas da natureza;
Em que vos pese Ă  beleza,
Pereceis;
Mas, nĂŁo… Se a mĂŁo de um poeta
Vos cultiva agora, Ăł rosas,
Mais vivas, mais jubilosas,
Floresceis.

Cantiga do Rosto Branco

Rico era o rosto branco; armas trazia,
E o licor que devora e as finas telas;
Na gentil Tibeima os olhos pousa,
E amou a flor das belas.

“Quero-te!” disse à cortesã da aldeia;
“Quando, junto de ti, teus olhos miro,
A vista se me turva, as forças perco,
E quase, e quase expiro.”

E responde a morena requebrando
Um olhar doce, de cobiça cheio:
“Deixa em teus lábios imprimir meu nome;
Aperta-me em teu seio!”

Uma cabana levantaram ambos,
O rosto branco e a amada flor das belas…
Mas as riquezas foram-se co’o tempo,
E as ilusÔes com elas.

Quando ele empobreceu, a amada moça
Noutros lĂĄbios pousou seus lĂĄbios frios,
E foi ouvir de coração estranho
Alheios desvarios.

Desta infidelidade o rosto branco
Triste nova colheu; mas ele amava,
Inda infiéis, aqueles låbios doces,
E tudo perdoava.

Perdoava-lhe tudo, e inda corria
A mendigar o grĂŁo de porta em porta,
Com que a moça nutrisse, em cujo peito
Jazia a afeição morta.

E para si,

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Visio

Eras pĂĄlida. E os cabelos,
AĂ©reos, soltos novelos,
Sobre as espĂĄduas caĂ­am…
Os olhos meio cerrados
De volĂșpia e de ternura
Entre lĂĄgrimas luziam…
E os braços entrelaçados,
Como cingindo a ventura,
Ao teu seio me cingiam…

Depois, naquele delĂ­rio,
Suave, doce martĂ­rio
De pouquĂ­ssimos instantes,
Os teus lĂĄbios sequiosos,
Frios, trĂȘmulos, trocavam
Os beijos mais delirantes,
E no supremo dos gozos
Ante os anjos se casavam
Nossas almas palpitantes…

Depois… depois a verdade,
A fria realidade,
A solidĂŁo, a tristeza;
Daquele sonho desperto,
Olhei… silĂȘncio de morte
Respirava a natureza —
Era a terra, era o deserto,
Fora-se o doce transporte,
Restava a fria certeza.

Desfizera-se a mentira:
Tudo aos meus olhos fugira;
Tu e o teu olhar ardente,
LĂĄbios trĂȘmulos e frios,
O abraço longo e apertado,
O beijo doce e veemente;
Restavam meus desvarios,
E o incessante cuidado,
E a fantasia doente.

E agora te vejo. E fria
TĂŁo outra estĂĄs da que eu via
Naquele sonho encantado!

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LĂșcia

(Alfred de Musset)

NĂłs estĂĄvamos sĂłs; era de noite;
Ela curvara a fronte, e a mĂŁo formosa,
Na embriaguez da cisma,
TĂȘnue deixava errar sobre o teclado;
Era um murmĂșrio; parecia a nota
De aura longĂ­nqua a resvalar nas balsas
E temendo acordar a ave no bosque;
Em torno respiravam as boninas
Das noites belas as volĂșpias mornas;
Do parque os castanheiros e os carvalhos
Brando embalavam orvalhados ramos;
OuvĂ­amos a noite, entre-fechada,
A rasgada janela
Deixava entrar da primavera os bĂĄlsamos;
A vĂĄrzea estava erma e o vento mudo;
Na embriaguez da cisma a sĂłs estĂĄvamos
E tĂ­nhamos quinze anos!

LĂșcia era loura e pĂĄlida;
Nunca o mais puro azul de um céu profundo
Em olhos mais suaves refletiu-se.
Eu me perdia na beleza dela,
E aquele amor com que eu a amava – e tanto ! –
Era assim de um irmĂŁo o afeto casto,
Tanto pudor nessa criatura havia!

Nem um som despertava em nossos lĂĄbios;
Ela deixou as suas mĂŁos nas minhas;
TĂ­bia sombra dormia-lhe na fronte,

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