Contra a Morte e o Amor nĂŁo HĂĄ Quem Tenha Valia

Era ainda o mĂȘs de abril,
de maio antes um dia,
quando lĂ­rios e rosas
mostram mais sua alegria;
pela noite mais serena
que fazer o céu podia,
quando Flérida, a formosa
infanta, jĂĄ se partia,
ela na horta do pai
para as ĂĄrvores dizia:
“Ficai, adeus, minhas flores,
em que glĂłria ver soĂ­a.
Vou-me a terras estrangeiras,
a que ventura me guia.
Se meu pai me for buscar,
que grande bem me queria,
digam-lhe que amor me leva,
e que eu sem culpa o seguia;
que tanto por mim porfiava
que venceu sua porfia.
Triste, nĂŁo sei aonde vou,
e a mim ninguĂ©m o dizia!”
Eis que fala Dom Duardos:
“Não choreis, minha alegria,
que nos reinos de Inglaterra
mais claras ĂĄguas havia,
e mais formosos jardins,
e vossos, senhora, um dia:
tereis trezentas donzelas
de alta genealogia,
de prata sĂŁo os palĂĄcios
para vossa senhoria;
de esmeraldas e jacintos,
de ouro fino da Turquia,
com letreiros esmaltados
que minha vida Ă  porfia
vĂŁo contando,

Continue lendo…