Poemas sobre SilĂȘncio de JosĂ© Godoy Garcia

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Poemas de silĂȘncio de JosĂ© Godoy Garcia. Leia este e outros poemas de JosĂ© Godoy Garcia em Poetris.

IrmĂŁo

Eu não fiz uma revolução.
Mas me fiz irmão de todas as revoluçÔes.
Eu fiquei irmĂŁo de muitas coisas no mundo.
IrmĂŁo de uma certa camisa.
Uma certa camisa que era de um gesto de céu
e com certo carinho me vestia, como se me
vestisse de ĂĄrvore e de nuvens.
Eu fiquei irmĂŁo de uma vaca, como se ela
também sonhasse. Fiquei irmão de um vira-lata
com o brio com que ele também me abraçava.
Fiquei irmĂŁo de um riacho, que Ă© nome
de rio pequeno, um pequeno que cabe
todo dentro de mim, me falando,
me beijando, me lambendo, me lembrando.
Brincava e me envolvia, certos dias eu
girava em torno do redemoinho do cachorro
e do riacho e da vaca, sem Ă s vezes saber
se estava beijando o riacho, o cachorro
ou a vaca, com um grande céu
me entornando, com um grande céu
com a vaca no lombo e com o cĂŁo,
com o riacho rindo de nĂłs todos.
Eu fiquei irmĂŁo de livros, de gentes.
Eu fiquei irmĂŁo de uma certa montanha.

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Mudo, Mundo

Como serĂĄ que os pĂĄssaros que vivem no alto mar
dormem? e como serĂĄ
que o sono demora
no corpo das mulheres
e pode se ajeitar
entre o ventre e a virilha
e como serĂĄ que a mĂșsica
que Ă© gravada
permanece no silĂȘncio anos?
e como serĂĄ que os seios
ignoram o resto do corpo
e vivem a mesma vida
do resto do corpo, enfeite,
punhal, precisa beleza
na morte da madrugada
onde o corpo nĂŁo dorme
e como serĂĄ que o cavalo negro
acolhe a presença da lua
na lĂ­mpida noite
e, ao chegar da manhĂŁ,
acolhe a presença da moça
nua que serĂĄ reflectida
nos seus olhos
maior que a manhĂŁ
e como serĂĄ que a manhĂŁ
acolhe em seu puro ventre
os seus irmĂŁos rios?
e como serĂĄ que a terra
sabe guardar silĂȘncio sobre a morte
e como serĂĄ que as cobras
se encontram nas florestas
e como serĂĄ que o homem vive
sem abraçar o dia
e o viandante — irmão do dia?

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