Poemas sobre Tempo de João Miguel Fernandes Jorge

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Poemas de tempo de João Miguel Fernandes Jorge. Leia este e outros poemas de João Miguel Fernandes Jorge em Poetris.

Não Trago Recordações

Não trago recordações.
Escolheria as que não interessam a ninguém.
Como se erguesse contra mim o tiro de uma arma
ou acabasse de ler as disposições da comuna
sobre as mulheres.
Precisamos um do outro
esta noite

ferido por uma bala.

Os dois os três dias que se vão seguir.
Os envelopes foram destruídos.
As coisas
as cartas

o tempo é sempre magnífico.
Terra povoada de gente
mil e uma coisas que fazem uma arma
soltar o corpo
para o corpo de outro corpo.

As frases começadas
hei-de um dia os mundos desta vida.

Há Momentos que Resulta tão Difícil Chegarmos a um Sentimento

Há momentos em que do fogo sobe para a noite
há momentos que resulta tão difícil chegarmos a um
sentimento.
Descubro uma figura que já não
sei seguir. Há momentos
eu vejo o que se senta à minha frente o amável corte
de cabelo o severo intento tomado como correcto
rosto onde a plenitude era possível. Rosto onde o
passado é a tarde de verão a pequena cidade onde o
sol pode dizer-se cai no campo rosto de passados ou
uma tarde de verão para ter tempo.

Vimos do Tempo da Falta Mínima

Vimos do tempo da falta mínima
da casa construindo as folhas de quadrícula
(quando um traço mais que expressivo preenche
o vazio de uma folha)
nem beleza nem fim
nem número ordenador como fantasma.

Todas as memórias partilhámos
a ruína compreende tudo.
Compreender quer dizer abraçar
(linhas e cruzamentos na procura da folha)
o mundo inteiro nos é dado.

Mais tarde (mais além
dois furos a passagem para o útil)
as dunas darão lugar a campos cultivados?
Quero dizer
não rejeito do movimento toda a impaciência
toda a dissolução.
(pouco a pouco) Até onde podemos ir?

A Questão deste Corpo

A questão deste corpo está hoje no esquecimento
dogma sobre ele erguido há muito tempo: é
um corpo flutuante confuso próximo de
um conhecimento verbal
questão em si mesmo questionando teoria
opinião tradicional.

Contamos histórias
renunciamos a determinar-lhe origem
recurso a outro corpo perguntando reclamando
a perder de vista.

Se interrogo retenho a questão quotidiana
o defeito do corpo disponível
ante toda a constatação todo o exame.

(Esta a coragem das mãos ao pensamento
lenta e solitária
no silêncio da pedra disparada
do alto do tempo.)