Poemas sobre Últimos

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Poemas de Ășltimos escritos por poetas consagrados, filĂłsofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

O que se Passa na Cama

O que se passa na cama
Ă© segredo de quem ama.

É segredo de quem ama
nĂŁo conhecer pela rama
gozo que seja profundo,
elaborado na terra
e tĂŁo fora deste mundo
que o corpo, encontrando o corpo
e por ele navegando,
atinge a paz de outro horto,
noutro mundo: paz de morto,
nirvana, sono do pénis.

Ai, cama, canção de cuna,
dorme, menina, nanana,
dorme a onça suçuarana,
dorme a cĂąndida vagina,
dorme a Ășltima sirena
ou a penĂșltima… O pĂ©nis
dorme, puma, americana
fera exausta. Dorme, fulva
grinalda de tua vulva.
E silenciem os que amam,
entre lençol e cortina
ainda hĂșmidos de sĂ©men,
estes segredos de cama.

MetafĂ­sica

1

NĂŁo tenta nada de que se tivesse jĂĄ esquecido;
o seu objectivo, agora, Ă© organizar o presente.

2

Com as mĂŁos, procura avaliar a qualidade da terra:
se as folhas lhe dĂŁo a consistĂȘncia do ser vivo,
ou se a pedra que estĂĄ por baixo, com os restos
fĂłsseis da origem, rompe a sua unidade, e impede
o caminho Ă s raĂ­zes.

3

Os olhos nĂŁo sabem, ainda, que a visĂŁo profunda
os dispensa. Por dentro, o olhar implica a noite;
e Ă© da fusĂŁo das formas no negro Ășltimo do cĂ©u,
para além da superfície das estrelas e das nebulosas
que essa verdade brilha com a sua exacta eternidade.

Pequena Elegia de Setembro

NĂŁo sei como vieste,
mas deve haver um caminho
para regressar da morte.

EstĂĄs sentada no jardim,
as mãos no regaço cheias de doçura,
os olhos pousados nas Ășltimas rosas
dos grandes e calmos dias de setembro.

Que mĂșsica escutas tĂŁo atentamente
que nĂŁo dĂĄs por mim?
Que bosque, ou rio, ou mar?
Ou Ă© dentro de ti
que tudo canta ainda?

Queria falar contigo,
Dizer-te apenas que estou aqui,
mas tenho medo,
medo que toda a mĂșsica cesse
e tu nĂŁo possas mais olhar as rosas.
Medo de quebrar o fio
com que teces os dias sem memĂłria.

Com que palavras
ou beijos ou lĂĄgrimas
se acordam os mortos sem os ferir,
sem os trazer a esta espuma negra
onde corpos e corpos se repetem,
parcimoniosamente, no meio de sombras?

Deixa-te estar assim,
ó cheia de doçura,
sentada, olhando as rosas,
e tĂŁo alheia
que nem dĂĄs por mim.

Elegia dos Amantes LĂșcidos

Na girĂąndola das ĂĄrvores (e nĂŁo hĂĄ quem as detenha)
Deixa de fora a tarde o vermelho que a tinge.
Se ao menos tu ficasses na pausa que desenha
O contorno lunar da noite que te finge!

Se ao menos eu gelasse uma corda do vento
para encontrar a forma exacta dum violino
Que fosse a sensibilidade deste pensamento
Com que a minha sombra vai pensando o meu destino

E nĂŁo houvesse o sono dum telhado
Entre ter de haver eu e haver o tecto;
E a eternidade nĂŁo estivesse ao lado
A colocar-nos nas costas as asas dum insecto

Meu amor, meu amor, teu gesto nasce
Para partir de ti e ser ao longe
A cor duma cidade que nos pasce
Como a ausĂȘncia de deus pastando um monge

Ah, se uma sĂșbita mĂŁo na hora a pique
Tangendo harpas geladas por segredos
Desprendesse uma aragem de repiques
Destes sinos parados pelo medo!

Mas sĂł porque vieste fez-se tarde,
Ou Ă© a vida que nasce jĂĄ tardia
Como uma estrela que se acende e arde
Porque nĂŁo cabe na rapidez do dia?

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Enfermaria Nove

13

Correram as cortinas: construĂ­ram
um Ășltimo lugar, – indefinido
trĂąnsito: funesto, ou devido
aos olhos que dez vezes jĂĄ o viram

erguido sobre o chĂŁo de um tal piso.
RidĂ­culo volume; mas o pano
destrĂłi passo e sonho, – desengano
crescendo no espelho quase liso.

Um pouco mais de luz: a de nĂŁo ser.
E o golpe, em si, torna-se breve:
o tempo do transporte, – se um braço

avança no desejo de prender.
E o corpo dilui-se quando leve
impulso diminui, – ou se diz lasso.