Stella
JĂĄ raro e mais escasso
A noite arrasta o manto,
E verte o Ășltimo pranto
Por todo o vasto espaço.TĂbio clarĂŁo jĂĄ cora
A tela do horizonte,
E jĂĄ de sobre o monte
Vem debruçar-se a aurora.à muda e torva irmã,
Dormida de cansaço,
Lå vem tomar o espaço
A virgem da manhĂŁ.Uma por uma, vĂŁo
As pĂĄlidas estrelas,
E vĂŁo, e vĂŁo com elas
Teus sonhos, coração.Mas tu, que o devaneio
Inspiras do poeta,
NĂŁo vĂȘs que a vaga inquieta
Abre-te o Ășmido seio?Vai. Radioso e ardente,
Em breve o astro do dia,
Rompendo a névoa fria,
VirĂĄ do roxo oriente.Dos Ăntimos sonhares
Que a noite protegera,
De tanto que eu vertera
Em lĂĄgrimas a pares,Do amor silencioso,
MĂstico, doce, puro,
Dos sonhos de futuro,
Da paz, do etéreo gozo,De tudo nos desperta
Luz de importuno dia;
Do amor que tanto a enchia
Minha alma estĂĄ deserta.A virgem da manhĂŁ
JĂĄ todo o cĂ©u domina…
Poemas sobre Vagas de Machado de Assis
3 resultadosRuĂnas
Cobrem plantas sem flor crestados muros;
Range a porta anciĂŁ; o chĂŁo de pedra
Gemer parece aos pés do inquieto vate.
RuĂna Ă© tudo: a casa, a escada, o horto,
SĂtios caros da infĂąncia.
Austera moça
Junto ao velho portĂŁo o vate aguarda;
Pendem-lhe as tranças soltas
Por sobre as roxas vestes.
Risos nĂŁo tem, e em seu magoado gesto
Transluz nĂŁo sei que dor oculta aos olhos;
â Dor que Ă face nĂŁo vem, â medrosa e casta,
Ăntima e funda; â e dos cerrados cĂlios
Se uma discreta muda
LĂĄgrima cai, nĂŁo murcha a flor do rosto;
Melancolia tĂĄcita e serena,
Que os ecos nĂŁo acorda em seus queixumes,
Respira aquele rosto. A mĂŁo lhe estende
O abatido poeta. Ei-los percorrem
Com tardo passo os relembrados sĂtios,
Ermos depois que a mĂŁo da fria morte
Tantas almas colhera. Desmaiavam,
Nos serros do poente,
As rosas do crepĂșsculo.
âQuem Ă©s? pergunta o vate; o sol que foge
No teu lĂąnguido olhar um raio deixa;
â Raio quebrado e frio; â o vento agita
TĂmido e frouxo as tuas longas tranças.
Lua Nova
Mãe dos frutos, Jaci, no alto espaço
Ei-la assoma serena e indecisa:
Sopro Ă© dela esta lĂąnguida brisa
Que sussurra na terra e no mar.
NĂŁo se mira nas ĂĄguas do rio,
Nem as ervas do campo branqueia;
Vaga e incerta ela vem, como a idéia
Que inda apenas começa a espontar.E iam todos; guerreiros, donzelas,
Velhos, moços, as redes deixavam;
Rudes gritos na aldeia soavam,
Vivos olhos fugiam pâra o cĂ©u:
Iam vĂȘ-la, Jaci, mĂŁe dos frutos,
Que, entre um grupo de brancas estrelas,
Mal cintila: nem pĂŽde vencĂȘ-las,
Que inda o rosto lhe cobre amplo véu.***
E um guerreiro: âJaci, doce amada,
Retempera-me as forças; não veja
Olho adverso, na dura peleja,
Este braço jå frouxo cair.
Vibre a seta, que ao longe derruba
Tajaçu, que roncando caminha;
Nem lhe escape serpente daninha,
Nem lhe fuja pesado tapir.â***
E uma virgem: âJaci, doce amada,
Dobra os galhos, carrega esses ramos
Do arvoredo coâas frutas* que damos
Aos valentes guerreiros, que eu vou
A buscĂĄ-los na mata sombria,