Sonetos sobre Alegria de Fernando Pessoa

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Sonetos de alegria de Fernando Pessoa. Leia este e outros sonetos de Fernando Pessoa em Poetris.

Depois Que O Som Da Terra, Que É NĂŁo TĂȘ-Lo

Depois que o som da terra, que Ă© nĂŁo tĂȘ-lo,
Passou, nuvem obscura, sobre o vale
E uma brisa afastando meu cabelo
Me diz que fale, ou me diz que cale,

A nova claridade veio, e o sol
Depois, ele mesmo , e tudo era verdade,
Mas quem me deu sentir e a sua prole?
Quem me vendeu nas hastas da vontade?

Nada. Uma nova obliquação da luz,
Interregno factĂ­cio onde a erva esfria.
E o pensamento inĂștil se conduz

Até saber que nada vale ou pesa.
E nĂŁo sei se isto me ensimesma ou alheia,
Nem sei se Ă© alegria ou se Ă© tristeza.

HĂĄ Um Poeta Em Mim Que Deus Me Disse

HĂĄ um poeta em mim que Deus me disse…
A Primavera esquece nos barrancos
As grinaldas que trouxe dos arrancos
Da sua efĂȘmera e espectral ledice…

Pelo prado orvalhado a meninice
Faz soar a alegria os seus tamancos…
Pobre de anseios teu ficar nos bancos
Olhando a hora como quem sorrisse…

Florir do dia a capitĂ©is de Luz…
Violinos do silĂȘncio enternecidos…
TĂ©dio onde o sĂł ter tĂ©dio nos seduz…

Minha alma beija o quadro que pintou…
Sento-me ao pé dos séculos perdidos
E cismo o seu perfil de inĂ©rcia e vĂŽo…