Tomou-me Vossa Vista Soberana
Tomou-me vossa vista soberana
Aonde tinha as armas mais Ă mĂŁo,
Por mostrar a quem busca defensĂŁo
Contra esses belos olhos, que se engana.Por ficar da vitĂłria mais ufana,
Deixou-me armar primeiro da razĂŁo;
Bem salvar-me cuidei, mas foi em vĂŁo,
Que contra o Céu não vale defensa humana.Contudo, se vos tinha prometido
O vosso alto destino esta vitĂłria,
Ser-vos ela bem pouco está entendido.Pois, inda que eu me achasse apercebido,
NĂŁo levais de vencer-me grande glĂłria,
Eu a levo maior de ser vencido.
Sonetos sobre Armas de LuĂs de Camões
7 resultadosRepouso na Alegria Comedido
Leda serenidade deleitosa,
Que representa em terra um paraĂso;
Entre rubis e perlas, doce riso,
Debaixo de ouro e neve, cor-de-rosa;Presença moderada e graciosa,
Onde ensinando estĂŁo despejo e siso
Que se pode por arte e por aviso,
Como por natureza, ser formosa;Fala de que ou já vida, ou morte pende,
Rara e suave, enfim, Senhora, vossa,
Repouso na alegria comedido:Estas as armas sĂŁo com que me rende
E me cativa Amor; mas nĂŁo que possa
Despojar-me da glĂłria de rendido.
Que Vençais no Oriente tantos Reis
Que vençais no Oriente tantos Reis,
Que de novo nos deis da ĂŤndia o Estado,
Que escureçais a fama que hão ganhado
Aqueles que a ganharam de infiéis;Que vencidas tenhais da morte as leis,
E que vencĂŞsseis tudo, enfim, armado,
Mais é vencer na Pátria, desarmado,
Os monstros e as Quimeras que venceis.Sobre vencerdes, pois, tanto inimigo,
E por armas fazer que sem segundo
No mundo o vosso nome ouvido seja;O que vos dá mais fama inda no mundo,
É vencerdes, Senhor, no Reino amigo,
Tantas ingratidões, tão grande inveja.
Num Bosque Que Das Ninfas Se Habitava
Num bosque que das Ninfas se habitava
SĂlvia, Ninfa linda, andava um dia;
subida nüa árvore sombria,
as amarelas flores apanhava.Cupido, que ali sempre costumava
a vir passar a sesta Ă sombra fria,
num ramo o arco e setas que trazia,
antes que adormecesse, pendurava.A Ninfa, como idĂłneo tempo vira
para tamanha empresa, nĂŁo dilata,
mas com as armas foge ao Moço esquivo.As setas traz nos olhos, com que tira:
-Ă“ pastores! fugi, que a todos mata,
senĂŁo a mim, que de matar me vivo.
Que Vençais No Oriente Tantos Reis
Que vençais no Oriente tantos Reis,
que de novo nos deis da ĂŤndia o Estado,
que escureceis a fama que ganhado
tinham os que a ganharam a infiéis;que do tempo tenhais vencido as leis,
que tudo, enfim, vençais co tempo armado,
mais é vencer na pátria, desarmado,
os monstros e as Quimeras que venceis.E assi, sobre vencerdes tanto imigo,
e por armas fazer que, sem segundo,
vosso nome no mundo ouvido seja,o que vos dá mais nome inda no mundo,
Ă© vencerdes, Senhor, no Reino amigo,
tantas ingratidões, tão grande enveja!
Tomou-me vossa vista soberana
Tomou-me vossa vista soberana
Aonde tinha as armas mais Ă mĂŁo,
Por mostrar que quem busca defensĂŁo
Contra esses belos olhos, que se engana.Por ficar da vitĂłria mais ufana,
Deixou-me armar primeiro da razĂŁo;
Cuidei de me salvar, mas foi em vĂŁo,
Que contra o Céu não vale defensa humana.Mas porém, se vos tinha prometido
O vosso alto destino esta vitĂłria,
Ser-vos tudo bem pouco está sabido.Que posto que estivesse apercebido,
NĂŁo levais de vencer-me grande glĂłria;
Maior a levo eu de ser vencido.
O CapitĂŁo Ilustre, e Assinalado, Dom Fernando de Castro
Debaixo desta pedra está metido,
Das sanguinosas armas descansado,
O CapitĂŁo ilustre, e assinalado,
Dom Fernando de Castro, e esclarecido.Este por todo o Oriente tĂŁo metido,
Este da prĂłpria inveja tĂŁo cantado,
Este, enfim, raio de Mavorte irado,
Aqui está agora em terra convertido.Alegra-te, ó guerreira Lusitânia,
Por est’outro Viriato que criaste,
E chora a perda sua eternamente.Exemplo toma nisto de Dardânia;
Que se a Roma com ele aniquilaste,
Nem por isso Cartago está contente.