Sonetos sobre Astros de António Cândido Gonçalves Crespo

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Sonetos de astros de António Cândido Gonçalves Crespo. Leia este e outros sonetos de António Cândido Gonçalves Crespo em Poetris.

Mater Dolorosa

Quando se fez ao largo a nave escura,
na praia essa mulher ficou chorando,
no doloroso aspecto figurando
a lacrimosa estátua da amargura.

Dos céus a curva era tranquila e pura;
Das gementes alcĂ­ones o bando
Via-se ao longe, em cĂ­rculos, voando
Dos mares sobre a cérula planura.

Nas ondas se atufara o Sol radioso,
E Lua sucedera, astro mavioso,
De alvor banhando os alcantis das fragas…

E aquela pobre mĂŁe, nĂŁo dando conta
Que o sol morrera, e que o luar desponta,
A vista embebe na amplidĂŁo das vagas…

Consolação

Quando Ă  noite no baile esplendoroso
Vais na onda da valsa arrebatada
Com a serena fronte reclinada
Sobre o peito feliz do par ditoso…

Mal sabes tu que existe um desditoso
Faminto de te ver, oh minha amada!
E que sente a sua alma angustiada
Longe da luz do teu olhar piedoso.

Mas quando a roxa aurora vem nascendo,
E a cotovia acorda o laranjal,
E os astros vĂŁo de todo esmorecendo;

Eu cuido ver-te, oh lĂ­rio divinal,
As minhas cartas ávida relendo
Seminua no leito virginal.