Sonetos sobre Beleza de Cláudio Manuel da Costa

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Sonetos de beleza de Cláudio Manuel da Costa. Leia este e outros sonetos de Cláudio Manuel da Costa em Poetris.

XLIV

Há quem confie, Amor, na segurança
De um falsĂ­ssimo bem, com que dourando
O veneno mortal, vás enganando
Os tristes corações numa esperança!

Há quem ponha inda cego a confiança
Em teu fingido obséquio, que tomando
Lições de desengano, não vá dando
Pelo mundo certeza da mudança!

Há quem creia, que pode haver firmeza
Em peito feminil, quem advertido
Os cultos nĂŁo profane da beleza!

Há inda, e há de haver, eu não duvido,
Enquanto nĂŁo mudar a Natureza
Em Nise a formosura, o amor em Fido.

XLIX

Os olhos tendo posto, e o pensamento
No rumo, que demanda, mais distante;
As ondas bate o Grego Navegante,
Entregue o leme ao mar, a vela ao vento

Em vão se esforça o harmonioso acento
Da sereia, que habita o golfo errante;
Que resistindo o espĂ­rito constante,
Vence as lisonjas do enganoso intento.

Se pois, ninfas gentis, rompe a Cupido
O arco, a flecha, o dardo, a chama acesa
De um peito entre os herĂłis esclarecido;

Que vem buscar comigo a néscia empresa,
Se inda mais, do que Ulisses atrevido,
Sei vencer os encantos da beleza!

LXXIII

Quem se fia de Amor, quem se assegura
Na fantástica fé de uma beleza,
Mostra bem, que nĂŁo sabe, o que Ă© firmeza,
Que protesta de amante a formosura.

Anexa a qualidade de perjura
Ao brilhante esplendor da gentileza,
Mudável é por lei da natureza,
A que por lei de Amor Ă© menos dura.

Deste, ó Fábio, que vês, desordenado,
Ingrato proceder se Ă© que examinas
A razĂŁo, eu a tenho decifrado:

SĂŁo as setas de Amor tĂŁo peregrinas,
Que esconde no gentil o golpe irado;
Para lograr pacĂ­fico as ruĂ­nas.