Sonetos sobre Estrofes

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Sonetos de estrofes escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Musa ImpassĂ­vel I

Musa! um gesto sequer de dor ou de sincero
Luto jamais te afeie o cândido semblante!
Diante de um JĂł, conserva o mesmo orgulho; e diante
De um morto, o mesmo olhar e sobrecenho austero.

Em teus olhos não quero a lágrima; não quero
Em tua boca o suave e idĂ­lico descante.
Celebra ora um fantasma anguiforme de Dante,
Ora o vulto marcial de um guerreiro de Homero.

Dá-me o hemistĂ­quio d’ouro, a imagem atrativa;
A rima, cujo som, de uma harmonia crebra,
Cante aos ouvidos d’alma; a estrofe limpa e viva;

Versos que lembrem, com seus bárbaros ruídos,
Ora o áspero rumor de um calhau que se quebra,
Ora o surdo rumor de mármores partidos.

Vanitas

Cego, em febre a cabeça, a mão nervosa e fria,
Trabalha. A alma lhe sai da pena, alucinada,
E enche-lhe, a palpitar, a estrofe iluminada
De gritos de triunfo e gritos de agonia.

Prende a idéia fugaz; doma a rima bravia,
Trabalha… E a obra, por fim, resplandece acabada:
“Mundo, que as minhas mĂŁos arrancaram do nada!
Filha do meu trabalho! ergue-te Ă  luz do dia!

Cheia da minha febre e da minha alma cheia,
Arranquei-te da vida ao ádito profundo,
Arranquei-te do amor Ă  mina ampla e secreta!

Posso agora morrer, porque vives!” E o Poeta
Pensa que vai cair, exausto, ao pé de um mundo,
E cai – vaidade humana! – ao pĂ© de um grĂŁo de areia…

Decadentes

Richepin, Rollinat! gritos sangrentos
Da carne alvoroçada de desejos,
Mosto de risos, lágrimas e beijos,
Estertores de abutres famulentos.

Desesperado frĂŞmito dos ventos,
De harpas, sutis, fantásticos harpejos,
Clarins de guerra, e cânticos e adejos
De aves — todos os vivos elementos.

Tudo flameja e nas estrofes canta,
Estruge, zune, em borbotões levanta
Noites, luares, fulgurantes dias.

Mas nessa ideal temperatura forte
Tudo isso Ă© triste como a flor da morte
Que brota dentro das caveiras frias…

Auréola Equatorial

A Teodoreto Souto

Fundi em bronze a estrofe augusta dos prodĂ­gios,
Poetas do Equador, artĂ­sticos Barnaves;
Que o facho — Abolição — rasgando as nuvens graves
De raios e bulcões — triunfa nos litĂ­gios!

— O rei Mamoud, o Sol, vibrou p’raquelas bandas
do Norte — a grande luz — elĂ©trico, explodindo,
Assim como quem vai, intrépido, subindo
Ă€ luz da idade nova — em claras propagandas.

— Os pássaros titĂŁs nos seus conciliábulos,
— Chilreiam, vĂŁo cantando em mĂ­sticos vocábulos,
Alargam-se os pulmões nevrálgicos das zonas;

Abri alas, abri! — Que em tĂşnica de assombros,
Irá passar por vós, com a Liberdade aos ombros,
Como um colosso enorme o impávido Amazonas!

Supremo Orgulho

Nunca soube pedir…Nunca soube implorar…
Nasci, tendo este orgulho em minha lama irriquieta,
– há um brilho que incendeia o meu altivo olhar
de crente superior… de indiferente asceta…

Minha fronte, jamais, eu soube curvar
na atitude servil de uma existĂŞncia abjeta…
NinguĂ©m Ă© mais que eu!… NinguĂ©m… e este meu ar
de orgulho, vem da glĂłria imensa de ser poeta…

Sou pobre – mas riqueza alguma há igul Ă  minha,
– a mulher que eu amar terá a glĂłria suprema
de um dia se sentir maior que uma rainha….

Terá a glória de saber o seu nome
perpetuado por mim nas estrofes de um poema,
desses que a HistĂłria guarda e o Tempo nĂŁo consome!

Colar De PĂ©rolas

A F’licidade Ă© um colar de pĂ©rolas,
PĂ©rolas caras, de valor pujante,
Belas estrofes de Petrarca e Dante
Mais cintilantes que as manhãs mais cérulas.

Para que enfim esse colar bendito,
Perdure sempre, inteiramente egrégio,
Como uma tela do pintor Correggio,
Sem resvalar no lodaçal maldito:

Faz-se preciso umas paixões bem retas,
Cheias de uns tons de muito sol — completas…
Faz-se preciso que do amor na febre,

Nos grandes lances de vigor preclaro,
Desse colar esplendoroso e raro,
Nem uma pĂ©rola, uma sĂł se quebre!…