MĂĄgoas
Quando nasci, num mĂȘs de tantas flores,
Todas murcharam, tristes, langorosas,
Tristes fanaram redolentes rosas,
Morreram todas, todas sem olores.Mais tarde da existĂȘncia nos verdores
Da infĂąncia nunca tive as venturosas
Alegrias que passam bonançosas,
Oh! Minha infĂąncia nunca teve flores!Volvendo Ă quadra azul da mocidade,
Minh’alma levo aflita Ă Eternidade,
Quando a morte matar meus dissabores.Cansado de chorar pelas estradas,
Exausto de pisar mĂĄgoas pisadas,
Hoje eu carrego a cruz das minhas dores!
Sonetos sobre ExistĂȘncia de Augusto dos Anjos
4 resultadosInfeliz
Alma viĂșva das paixĂ”es da vida,
Tu que, na estrada da existĂȘncia em fora,
Cantaste e riste, e na existĂȘncia agora
Triste soluças a ilusão peerdida;Oh! Tu, que na grinalda emurchecida
De teu passado de felicidade
Foste juntar os goivos da Saudade
Ăs flores da Esperança enlanguescida;Se nada te aniquila o desalento
Que te invade, e o pesar negro e profundo,
Esconde Ă Natureza o sofrimento,E fica no teu ermo entristecida,
Alma arrancada do prazer do mundo,
Alma viĂșva das paixĂ”es da vida.
O Poeta Do Hediondo
Sofro aceleradĂssimas pancadas
No coração. Ataca-me a existĂȘncia
A mortificadora coalescĂȘncia
Das desgraças humanas congregadas!Em alucinatórias cavalgadas,
Eu sinto, entĂŁo, sondando-me a consciĂȘncia
A ultra-inquisitorial clarividĂȘncia
De todas as neuronas acordadas!Quanto me dói no cérebro esta sonda!
Ah! Certamente eu sou a mais hedionda
Generalização do Desconforto…Eu sou aquele que ficou sozinho
Cantando sobre os ossos do caminho
A poesia de tudo quanto Ă© morto!
A MĂĄscara
Eu sei que hĂĄ muito pranto na existĂȘncia,
Dores que ferem coraçÔes de pedra,
E onde a vida borbulha e o sangue medra,
AĂ existe a mĂĄgoa em sua essĂȘncia.No delĂrio, porĂ©m, da febre ardente
Da ventura fugaz e transitĂłria
O peito rompe a capa tormentĂłria
Para sorrindo palpitar contente.Assim a turba inconsciente passa,
Muitos que esgotam do prazer a taça
Sentem no peito a dor indefinida.E entre a mĂĄgoa que masc’ra eterna apouca
A humanidade ri-se e ri-se louca
No carnaval intérmino da vida.