Sonetos sobre GĂ©nios de Cruz e Souza

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Sonetos de génios de Cruz e Souza. Leia este e outros sonetos de Cruz e Souza em Poetris.

Sentimento Esquisito

Ó cĂ©u estĂ©ril dos desesperados,
Forma impassível de cristas sidéreo,
Dos cemitérios velho cemitério
Onde dormem os astros delicados.

PĂĄtria d’estrelas dos abandonados,
Casulo azul do anseio vago, aéreo,
Formidåvel muralha de mistério
Que deixa os coraçÔes desconsolados.

CĂ©u imĂłvel milĂȘnios e milĂȘnios,
Tu que iluminas a visĂŁo dos GĂȘnios
E ergues das almas o sagrado acorde.

Céu estéril, absurdo, céu imoto,
Faz dormir no teu seio o Sonho ignoto,
Esta serpente que alucina e morde…

LĂĄgrimas Da Aurora, Poemas Cristalinos

LĂĄgrimas da aurora, poemas cristalinos
Que rebentais das cobras do mistério!
Aves azuis do manto auri-sidĂ©rio…
Raios de luz, fantĂĄsticos, divinos!…

Astros diĂĄfanos, brandos, opalmos,
Brancas cecens do Paraíso etéreo,
Canto da tarde, límpido, aéreo,
Harpa ideal, dos encantados hinos!…

Brisas suaves, viraçÔes amenas,
LĂ­rios do vale, roseirais do lago,
Bandos errantes de sutis falenas!…

Vinde do arcano n’um potente afago
Louvar o GĂȘnio das mansĂ”es serenas,
Esse ProdĂ­gio singular e mago!!…

Dizem Que A Arte É A ClĂąmide De IdĂ©ia

Dizem que a arte é a clùmide de idéia
A peregrina irradiação celeste,
E d’isso a prova singular jĂĄ deste
Sorvendo d’ela a divinal sabĂ©ia!.

Da “Georgeta” na feliz estrĂ©ia,
Asseverar-nos ainda mais vieste
Que Ă©s um gĂȘnio, que te vĂĄs de preste
Tornando o assombro de qualquer platĂ©ia!…

Sinto uns transportes fervorosos, ledos
Quando nas cenas de sutis enredos
Fulgem-te os olhos co’a expressĂŁo dos astros!…

E as turbas mudas, impassĂ­veis, calmas
Sentem mil mundos lhes crescer nas almas…
VĂŁo-te seguindo os luminosos rastros!…

Grandeza Oculta

Estes vĂŁo para as guerras inclementes,
Os absurdos herĂłiis sanguinolentos,
Alvoroçados, tontos e sedentos
Do clamor e dos ecos estridentes.

Aqueles para os frĂ­volos e ardentes
Prazeres de acres inebriamentos:
Vinhos, mulheres, arrebatamentos
De luxĂșrias carnais, impenitentes.

Mas Tu, que na alma a imensidade fechas,
Que abriste com teu GĂȘnio fundas brechas
no mundo vil onde a maldade exulta,

Ó delicado espírito de Lendas!
Fica nas tuas Graças estupendas,
No sentimento da grandeza oculta!

É Delicada, Suave, Vaporosa

É delicada, suave, vaporosa,
A grande atriz, a singular feitura…
É linda e alva como a neve pura,
DĂ©bil, franzina, divinal, nervosa!…

E d’entre os lĂĄbios setinais, de rosa
Libram-se pĂ©rolas de nitente alvura…
E doce aroma de sutil frescura
Sai-lhe da leve compleição mimosa!…

Quando aparece no febril proscĂȘnio
Bem como os mitos do passado, ingentes,
Bem como um astro majestoso, helĂȘnio…

Sente-se n’alma as atraçÔes potentes
Que sĂł se operam ao fulgor do gĂȘnio,
As rubras chispas ideais, ferventes!…

Chegou Enfim, E O Desembarque Dela

Chegou enfim, e o desembarque dela
Causou-me logo uma impressĂŁo divina!
É meiga, pura como sã bonina,
Nos olhos vivos doce luz revela!

É graciosa, sacudida e bela,
NĂŁo tem os gestos de qualquer menina:
Parece um gĂȘnio que seduz, fascina,
TĂŁo atraente, singular Ă© ela!

Chegou, enfim! eu murmurei contente!
Fez-se em minh’alma purpurina aurora,
O entusiasmo me brotou fervente!

Vimos-lhe apenas a construção sonora,
Vimos a larva, nada mais, somente
Falta-nos ver a borboleta agora!