Sentimento Esquisito
à céu estéril dos desesperados,
Forma impassĂvel de cristas sidĂ©reo,
Dos cemitérios velho cemitério
Onde dormem os astros delicados.PĂĄtria d’estrelas dos abandonados,
Casulo azul do anseio vago, aéreo,
Formidåvel muralha de mistério
Que deixa os coraçÔes desconsolados.CĂ©u imĂłvel milĂȘnios e milĂȘnios,
Tu que iluminas a visĂŁo dos GĂȘnios
E ergues das almas o sagrado acorde.Céu estéril, absurdo, céu imoto,
Faz dormir no teu seio o Sonho ignoto,
Esta serpente que alucina e morde…
Sonetos sobre GĂ©nios de Cruz e Souza
6 resultadosLĂĄgrimas Da Aurora, Poemas Cristalinos
LĂĄgrimas da aurora, poemas cristalinos
Que rebentais das cobras do mistério!
Aves azuis do manto auri-sidĂ©rio…
Raios de luz, fantĂĄsticos, divinos!…Astros diĂĄfanos, brandos, opalmos,
Brancas cecens do ParaĂso etĂ©reo,
Canto da tarde, lĂmpido, aĂ©reo,
Harpa ideal, dos encantados hinos!…Brisas suaves, viraçÔes amenas,
LĂrios do vale, roseirais do lago,
Bandos errantes de sutis falenas!…Vinde do arcano n’um potente afago
Louvar o GĂȘnio das mansĂ”es serenas,
Esse ProdĂgio singular e mago!!…
Dizem Que A Arte à A Clùmide De Idéia
Dizem que a arte é a clùmide de idéia
A peregrina irradiação celeste,
E d’isso a prova singular jĂĄ deste
Sorvendo d’ela a divinal sabĂ©ia!.Da “Georgeta” na feliz estrĂ©ia,
Asseverar-nos ainda mais vieste
Que Ă©s um gĂȘnio, que te vĂĄs de preste
Tornando o assombro de qualquer platĂ©ia!…Sinto uns transportes fervorosos, ledos
Quando nas cenas de sutis enredos
Fulgem-te os olhos co’a expressĂŁo dos astros!…E as turbas mudas, impassĂveis, calmas
Sentem mil mundos lhes crescer nas almas…
VĂŁo-te seguindo os luminosos rastros!…
Grandeza Oculta
Estes vĂŁo para as guerras inclementes,
Os absurdos herĂłiis sanguinolentos,
Alvoroçados, tontos e sedentos
Do clamor e dos ecos estridentes.Aqueles para os frĂvolos e ardentes
Prazeres de acres inebriamentos:
Vinhos, mulheres, arrebatamentos
De luxĂșrias carnais, impenitentes.Mas Tu, que na alma a imensidade fechas,
Que abriste com teu GĂȘnio fundas brechas
no mundo vil onde a maldade exulta,Ă delicado espĂrito de Lendas!
Fica nas tuas Graças estupendas,
No sentimento da grandeza oculta!
Ă Delicada, Suave, Vaporosa
Ă delicada, suave, vaporosa,
A grande atriz, a singular feitura…
Ă linda e alva como a neve pura,
DĂ©bil, franzina, divinal, nervosa!…E d’entre os lĂĄbios setinais, de rosa
Libram-se pĂ©rolas de nitente alvura…
E doce aroma de sutil frescura
Sai-lhe da leve compleição mimosa!…Quando aparece no febril proscĂȘnio
Bem como os mitos do passado, ingentes,
Bem como um astro majestoso, helĂȘnio…Sente-se n’alma as atraçÔes potentes
Que sĂł se operam ao fulgor do gĂȘnio,
As rubras chispas ideais, ferventes!…
Chegou Enfim, E O Desembarque Dela
Chegou enfim, e o desembarque dela
Causou-me logo uma impressĂŁo divina!
Ă meiga, pura como sĂŁ bonina,
Nos olhos vivos doce luz revela!Ă graciosa, sacudida e bela,
NĂŁo tem os gestos de qualquer menina:
Parece um gĂȘnio que seduz, fascina,
TĂŁo atraente, singular Ă© ela!Chegou, enfim! eu murmurei contente!
Fez-se em minh’alma purpurina aurora,
O entusiasmo me brotou fervente!Vimos-lhe apenas a construção sonora,
Vimos a larva, nada mais, somente
Falta-nos ver a borboleta agora!