Sonetos sobre Lendas

6 resultados
Sonetos de lendas escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

SĂ­miles

(Desterro)

Pedro traiu a fé do Apostolado.
Madalena chorou de arrependida;
E nessa mágoa triste e indefinida
Havia ainda uns laivos de pecado.

Tudo que a BĂ­blia tinha decretado,
Tudo o que a lenda humilde e dolorida
De Jesus Cristo apregoou na vida,
Cumpriu-se Ă  risca, foi executado.

O filho-Deus da cândida Maria,
Da flor de JericĂł, na cruz sombria
Os seus dias amáveis terminou.

Pedro traiu a fé dos companheiros.
Madalena chorou sob os olmeiros
Jesus Cristo sofreu e… perdoou.

Nostalgia

Nesse PaĂ­s de lenda, que me encanta,
Ficaram meus brocados, que despi,
E as jĂłias que p’las aias reparti
Como outras rosas de Rainha Santa!

Tanta opala que eu tinha! Tanta, tanta!
Foi por lá que as semeei e que as perdi…
Mostrem-me esse PaĂ­s onde eu nasci!
Mostrem-me o Reino de que eu sou Infanta!

O meu PaĂ­s de sonho e de ansiedade,
NĂŁo sei se esta quimera que me assombra,
É feita de mentira ou de verdade!

Quero voltar! NĂŁo sei por onde vim…
Ah! NĂŁo ser mais que a sombra duma sombra
Por entre tanta sombra igual a mim!

Grandeza Oculta

Estes vĂŁo para as guerras inclementes,
Os absurdos herĂłiis sanguinolentos,
Alvoroçados, tontos e sedentos
Do clamor e dos ecos estridentes.

Aqueles para os frĂ­volos e ardentes
Prazeres de acres inebriamentos:
Vinhos, mulheres, arrebatamentos
De luxĂşrias carnais, impenitentes.

Mas Tu, que na alma a imensidade fechas,
Que abriste com teu GĂŞnio fundas brechas
no mundo vil onde a maldade exulta,

Ă“ delicado espĂ­rito de Lendas!
Fica nas tuas Graças estupendas,
No sentimento da grandeza oculta!

O Teu Olhar

Passam no teu olhar nobres cortejos,
Frotas, pendões ao vento sobranceiros,
Lindos versos de antigos romanceiros,
Céus do Oriente, em brasa, como beijos,

Mares onde nĂŁo cabem teus desejos;
Passam no teu olhar mundos inteiros,
Todo um povo de herĂłis e marinheiros,
Lanças nuas em rútilos lampejos;

Passam lendas e sonhos e milagres!
Passa a ĂŤndia, a visĂŁo do Infante em Sagres,
Em centelhas de crença e de certeza!

E ao sentir-te tĂŁo grande, ao ver-te assim,
Amor, julgo trazer dentro de mim
Um pedaço da terra portuguesa!

Prince Charmant

A Raul Proença

No lânguido esmaecer das amorosas
Tardes que morrem voluptuosamente
Procurei-O no meio de toda a gente.
Procurei-O em horas silenciosas!

Ă“ noites da minh’alma tenebrosas!
Boca sangrando beijos, flor que sente…
Olhos postos num sonho, humildemente…
MĂŁos cheias de violetas e de rosas…

E nunca O encontrei!…Prince Charmant…
Como audaz cavaleiro em velhas lendas
Virá, talvez, nas névoas da manhã!

Em toda a nossa vida anda a quimera
Tecendo em frágeis dedos frágeis rendas…
— Nunca se encontra Aquele que se espera!…

Soneto 573 Barbarizado

Já se disse: sete é conta de mentira e lenda.
Também dizem que de azar o treze é cifra certa.
Isso explica a redondilha como porta aberta
no cantar dos repentistas, na feroz contenda,

Ă  bazĂłfia descarada, onde Ă© melhor a emenda
que o soneto decassĂ­labo, no qual se enxerta
entre termos eruditos a falácia esperta,
lei de todo bom poeta que seu peixe venda.

Outrossim, também se explica por que nunca é visto
um soneto alexandrino, mas de pé quebrado:
este, a cuja tentação do treze não resisto.

Vou chamá-lo “aleijadinho”, pois, em vez de errado,
tem caráter de obra-prima, pelo menos nisto:
completar catorze versos sem ficar quadrado!