Sonetos sobre Netos

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Sonetos de netos escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Preside O Neto Da Rainha Ginga

Preside o neto da rainha Ginga
Ă€ corja vil, aduladora, insana.
Traz sujo moço amostras de chanfana,
Em copos desiguais se esgota a pinga.

Vem pão, manteiga e chá, tudo à catinga;
Masca farinha a turba americana;
E o oragotango a corda Ă  banza abana,
Com gesto e visagens de mandinga.

Um bando de comparsas logo acode
Do fofo Conde ao novo Talaveiras;
Improvisa berrando o rouco bode.

Aplaudem de contĂ­nuo as frioleiras
Belmiro em ditirambo, o ex-frade em ode.
Eis aqui de Lereno as quartas-feiras.

MarĂ­lia De Dirceu

Soneto 12

Obrei quando o discurso me guiava,
Ouvi aos sábios quando errar temia;
Aos Bons no gabinete o peito abria,
Na rua a todos como iguais tratava.

Julgando os crimes nunca os votos dava
Mais duro, ou pio do que a Lei pedia;
Mas devendo salvar ao justo, ria,
E devendo punir ao réu, chorava.

NĂŁo foram, Vila Rica, os meus projetos
Meter em fĂ©rreo cofre cĂłpia d’ouro
Que farte aos filhos, e que chegue aos netos:

Outras sĂŁo as fortunas, que me agouro,
Ganhei saudades, adquiri afetos,
Vou fazer destes bens melhor tesouro.

Obrei quanto o Discurso me Guiava

Obrei quanto o discurso me guiava,
Ouvi aos sábios quando errar temia;
Aos bons no gabinete o peito abria,
Na rua a todos como iguais tratava.

Julgando os crimes nunca os votos dava,
Mais duro, ou pio do que a lei pedia:
Mas devendo salvar ao justo ria,
E devendo punir aos réu chorava.

NĂŁo foram, Vila Rica, os meus projetos,
Meter em ferro cofre cĂłpia de ouro,
Que farte aos filhos, e que chegue aos netos:

Outras sĂŁo as fortunas, que me agouro,
Ganhei saudades, adquiri afetos,
Vou fazer deste bens melhor tesouro.

Soneto Da Mulher E A Nuvem

A JoĂŁo Cabral de Melo Neto

Nuvem no céu do nunca, nem tão branca
– assim era o amor, Ă  minha espreita,
e era a mulher, de nuvens sempre feita
e de véus e pudor que o amor arranca.

Não pude amá-la, pois não era franca
a sua carne que o amor aceita,
nuvem que um céu de amor sempre atravanca
e entre praias e pântanos se deita.

Bruma de carne, em vão céu de tormento,
parindo fogo aos meus dezesseis anos,
assim foi ela, sem deixar seu nome.

Nunca foi minha, e sĂł em pensamento
eu pude dar-lhe o amor de desenganos
que me deixou no corpo espanto e fome.

Na Aldeia

A CristĂłvĂŁo Aires

Duas horas da tarde. Um sol ardente
Nos colmos dardejando, e nos eirados.
Sobreleva aos sussurros abafados
O grito das bigornas estridente.

A taberna Ă© vazia; mansamente
Treme o loureiro nos umbrais pintados;
Zumbem Ă  porta insectos variegados,
Envolvidos do sol na luz tremente.

Fia Ă  soleira uma velhinha: o filho
No céu mal acordou da aurora o brilho
Saiu para os cansaços da lavoura.

A nora lava na ribeira, e os netos
Ao longe correm seminus, inquietos,
No mar ondeante da seara loura.