Sonetos sobre Pancada

4 resultados
Sonetos de pancada escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

O Poeta Do Hediondo

Sofro aceleradíssimas pancadas
No coração. Ataca-me a existência
A mortificadora coalescência
Das desgraças humanas congregadas!

Em alucinatórias cavalgadas,
Eu sinto, então, sondando-me a consciência
A ultra-inquisitorial clarividência
De todas as neuronas acordadas!

Quanto me dói no cérebro esta sonda!
Ah! Certamente eu sou a mais hedionda
Generalização do Desconforto…

Eu sou aquele que ficou sozinho
Cantando sobre os ossos do caminho
A poesia de tudo quanto é morto!

O Lamento Das Coisas

Triste, a escutar, pancada por pancada,
A sucessividade dos segundos,
Ouço, em sons subterrâneos, do Orbe oriundos,
O choro da Energia abandonada!

É a dor da Força desaproveitada
– O cantochão dos dínamos profundos,
Que, podendo mover milhões de mundos,
jazem ainda na estática do Nada!

É o soluço da forma ainda imprecisa…
Da transcendência que se não realiza…
Da luz que não chegou a ser lampejo…

E é em suma, o subconsciente ai formidando
Da Natureza que parou, chorando,
No rudimentarismo do Desejo!

Mário

Entre meditabundo e sonolento
Sobre a fofa delícia da almofada
Ele vai perseguindo na jornada
Através do Ottocento e o Novecento

Não o tires dali que dá pancada
Todo o resto prá ele é sofrimento
Vai colhendo da flor do pensamento
Toda a filosofia desejada

Só abandona voluntário o élan
Para o banho de poço da manhã
“Mens sana…” disse François Leblon

E às vezes, Carnaval, diz na folia
E passeia porrado pela orgia
Sob o signo pagão do rei Mammon.

Os Parceiros

Sonhar é acordar-se para dentro:
de súbito me vejo em pleno sonho
e no jogo em que todo me concentro
mais uma carta sobre a mesa ponho.

Mais outra! É o jogo atroz do Tudo ou Nada!
E quase que escurece a chama triste…
E, a cada parada uma pancada,
o coração, exausto, ainda insiste.

Insiste em quê?Ganhar o quê? De quem?
O meu parceiro…eu vejo que ele tem
um riso silencioso a desenhar-se

numa velha caveira carcomida.
Mas eu bem sei que a morte é seu disfarce…
Como também disfarce é a minha vida!