Sonetos sobre Sol de Manuel Maria Barbosa du Bocage

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Sonetos de sol de Manuel Maria Barbosa du Bocage. Leia este e outros sonetos de Manuel Maria Barbosa du Bocage em Poetris.

Invocação à Noite

Ó deusa, que proteges dos amantes
O destro furto, o crime deleitoso,
Abafa com teu manto pavoroso
Os importantes astros vigilantes:

Quero adoçar meus låbios anelantes
No seio de RitĂĄlia melindroso;
Estorva que os maus olhos do invejoso
Turbem d’amor os sĂŽfregos instantes:

TĂ©tis formosa, tal encanto inspire
Ao namorado Sol teu nĂ­veo rosto,
Que nunca de teus braços se retire!

Tarda ao menos o carro Ă  Noite oposto,
Até que eu desfaleça, até que expire
Nas ternas Ăąnsias, no inefĂĄvel gosto.

Por esta SolidĂŁo, que nĂŁo Consente

Por esta solidĂŁo, que nĂŁo consente
Nem do sol, nem da lua a claridade,
Ralado o peito pela saudade
Dou mil gemidos a MarĂ­lia ausente:

De seus crimes a mancha inda recente
Lava Amor, e triunfa da verdade;
A beleza, apesar da falsidade,
Me ocupa o coração, me ocupa a mente:

Lembram-me aqueles olhos tentadores,
Aquelas mĂŁos, aquele riso, aquela
Boca suave, que respira amores…

Ah! Trazei-me, ilusÔes, a ingrata, a bela!
Pintai-me vĂłs, oh sonhos, entre as flores
Suspirando outra vez nos braços dela!

Sanhudo, InexorĂĄvel Despotismo

Sanhudo, inexorĂĄvel Despotismo
Monstro que em pranto, em sangue a fĂșria cevas,
Que em mil quadros horrĂ­ficos te enlevas,
Obra da Iniquidade e do AteĂ­smo:

Assanhas o danado Fanatismo,
Porque te escore o trono onde te enlevas;
Por que o sol da Verdade envolva em trevas
E sepulte a RazĂŁo num denso abismo.

Da sagrada Virtude o colo pisas,
E aos satĂ©lites vis da prepotĂȘncia
De crimes infernais o plano gizas,

Mas, apesar da bĂĄrbara insolĂȘncia,
Reinas sĂł no ext’rior, nĂŁo tiranizas
Do livre coração a independĂȘncia.

Ó Tranças De Que Amor PrisĂ”es Me Tece

Ó tranças de que Amor prisĂ”es me tece,
Ó mãos de neve, que regeis meu fado!
Ó tesouro! Ó mistĂ©rio! Ó par sagrado,
Onde o menino alĂ­gero adormece!

Ó ledos olhos, cuja luz parece
TĂȘnue raio de sol! Ó gesto amado,
De rosas e açucenas semeado,
Por quem morrera esta alma, se pudesse!

Ó lábios, cujo riso a paz me tira,
E por cujos dulcĂ­ssimos favores
Talvez o prĂłprio JĂșpiter suspira!

Ó perfeiçÔes! Ó dons encantadores!
De quem sois? Sois de VĂȘnus? – É mentira;
Sois de MarĂ­lia, sois dos meus amores.

Meu Ser Evaporei na Luta Insana

Meu ser evaporei na luta insana
Do tropel de paixÔes que me arrastava:
Ah! cego eu cria, ah! mĂ­sero eu sonhava
Em mim quasi imortal a essĂȘncia humana!

De que inĂșmeros sĂłis a mente ufana
ExistĂȘncia falaz me nĂŁo dourava!
Mas eis sucumbe Natureza escrava
Ao mal, que a vida em sua origem dana.

Prazeres, sĂłcios meus, e meus tiranos!
Esta alma, que sedenta em si nĂŁo coube,
No abismo vos sumiu dos desenganos

Deus, Ăł Deus!… quando a morte a luz me roube,
Ganhe um momento o que perderam anos,
Saiba morrer o que viver nĂŁo soube.

Quantas vezes, Amor, me tens ferido?

Quantas vezes, Amor, me tens ferido?
Quantas vezes, RazĂŁo, me tens curado?
QuĂŁo fĂĄcil de um estado a outro estado
O mortal sem querer Ă© conduzido!

Tal, que em grau venerando, alto e luzido,
Como que até regia a mão do fado,
Onde o Sol, bem de todos, lhe Ă© vedado,
Depois com ferros vis se vĂȘ cingido:

Para que o nosso orgulho as asas corte,
Que variedade inclui esta medida,
Este intervalo da existĂȘncia Ă  morte!

Travam-se gosto, e dor; sossego e lida;
É lei da natureza, Ă© lei da sorte,
Que seja o mal e o bem matiz da vida.

Nada se Pode Comparar Contigo

O ledo passarinho, que gorjeia
D’alma exprimindo a cĂąndida ternura;
O rio transparente, que murmura,
E por entre pedrinhas serpenteia;

O Sol, que o céu diåfano passeia,
A Lua, que lhe deve a formosura,
O sorriso da Aurora, alegre e pura,
A rosa, que entre os ZĂ©firos ondeia;

A serena, amorosa Primavera,
O doce autor das glĂłrias que consigo,
A Deusa das paixÔes e de Citera;

Quanto digo, meu bem, quanto nĂŁo digo,
Tudo em tua presença degenera.
Nada se pode comparar contigo.