Em Fermosa Leteia Se Confia
Em fermosa Leteia se confia,
por onde vaidade tanta alcança,
que, tornada em soberba a confiança,
com os deuses celestes competia.Porque nĂŁo fosse avante esta ousadia
(que nascem muitos erros da tardança),
em efeito puseram a vingança,
que tamanha doudice merecia.Mas Oleno, perdido por Leteia,
nĂŁo lhe sofrendo Amor que suportasse
castigo duro tanta fermosura,quis padecer em si a pena alheia;
mas, porque a morte Amor nĂŁo apartasse,
ambos tornados sĂŁo em pedra dura.
Sonetos sobre Tamanhos
25 resultadosPaira No AmbĂguo Destinar-Se
Paira no ambĂguo destinar-se
Entre longĂnquos precipĂcios,
A ânsia de dar-se preste a dar-se
Na sombra vaga entre suplĂcios,Roda dolente do parar-se
Para, velados sacrifĂcios,
Não ter terraços sobre errar-se
Nem ilusões com interstĂcios,Tudo velado, e o Ăłcio a ter-se
De leque em leque, a aragem fina
Com consciĂŞncia de perder-se…Tamanha a flama e pequenina
Pensar na mágoa japonesa
Que ilude as sirtes da Certeza.
As Montanhas
I
Das nebulosas em que te emaranhas
Levanta-te, alma, e dize-me, afinal,
Qual Ă©, na natureza espiritual,
A significação dessas montanhas!Quem nĂŁo vĂŞ nas granĂticas entranhas
A subjetividade ascensional
Paralisada e estrangulada, mal
Quis erguer-se a cumĂadas tamanhas?!Ah! Nesse anelo trágico de altura
NĂŁo serĂŁo as montanhas, porventura,
Estacionadas, Ăngremes, assim,Por um abortamento de mecânica,
A representação ainda inorgânica
De tudo aquilo que parou em mim?!
Milagre De Amor
Que mimporta, meu amor, a poesia que tanto
te preocupa porque a fiz antes de ti ?
Hoje… para nĂŁo ver os teus olhos em pranto
por Deus que eu rasgaria os versos que escrevi…Hoje, já nĂŁo sĂŁo meus… Como que por encanto
estes poemas que fiz, que sonhei, que vivi,
sĂŁo estranhos que seguem cantando o meu canto
a falarem de um velho mundo, que esqueci…De repente a mudança Ă© tĂŁo grande, Ă© tamanha,
que o passado se esvai numa sombra perdida,
e a minha prĂłpria voz soa falsa e estranha…Ă“h Milagre de Amor… ( Que por louco me tomem!)
Mas sinto uma alma nova em mim… tenho oura vida!!
E um novo coração no peito… e sou outro homem!
Soneto XIX
Qual mĂsera Calisto, quando atenta
Que abrindo o dia vĂŁo ao largo estanho
As mais estrelas a seu doce banho,
SĂł com seu Plaustro sĂł ficar lamenta,Tal, quando me a memĂłria representa
Banharem-se outros nesse mar estranho,
De graças mil gosando bem tamanho,
A falta dessa glĂłria me atormenta.E como inda que irada Juno a tolha
Decer ao mar, nĂŁo deixa em noite clara
Ferir nele seus raios do alto assento,Assi, por mais que a sorte em tudo avara
Para si deste corpo a parte escolha,
Livre, porém, me fica o pensamento.