Vaidade
Tua vaidade Ă© como um deus antigo
exige sacrifĂcios aos seus pĂ©s…
Olhar-te, Ă© desafiar algum perigo,
amar-te, Ă© procurar algum revĂ©s…Olhei-te, e desde entĂŁo teus passos sigo…
Amei-te, e mesmo assim. nĂŁo sei quem Ă©s…
Meu amor, pobre amor, quase o maldigo,
talvez seja outra vitima a teus pĂ©s…Amores, esperanças e desejos
ardem nos castiçais dessa vaidade
ao incenso sensual que hå nos teus beijos.. .Eis que te trago aqui meu coração.
JĂĄ de nada me serve, se em verdade
converteu-se a tĂŁo fĂștil religiĂŁo!
Sonetos sobre SacrifĂcio
10 resultadosXXV
NĂŁo de tigres as testas descarnadas,
Não de hircanos leÔes a pele dura,
Por sacrifĂcio Ă tua formosura,
Aqui te deixo, Ăł Lise, penduradas:Ănsias ardentes, lĂĄgrimas cansadas,
Com que meu rosto enfim se desfigura,
SĂŁo, bela ninfa, a vĂtima mais pura,
Que as tuas aras guardarĂŁo sagradas.Outro as flores, e frutos, que te envia,
Corte nos montes, corte nas florestas;
Que eu rendo as mĂĄgoas, que por ti sentia:Mas entre flores, frutos, peles, testas,
Para adornar o altar da tirania,
Que outra vĂtima queres mais, do que estas ?
Uma Doença CĂșmplice
uma doença cĂșmplice, marcas pĂșrpura
dĂŁo ao teu rosto a expressĂŁo do exĂlio
a que te submetes, gemeste
toda a noite, soçobrasteà febre alta do final da tarde, uma prega,
vincada no teu rosto,
mantém-te inanimado
entre a vigĂlia e a injĂșriaque hĂĄ no sacrifĂcio
e te pÔe a carne em chaga.
uma doença altiva, a consistĂȘnciado silĂȘncio Ă© como aço e o transe
permanece, Ă© superiormente excessiva
tanta angĂșstia.
Arrependimento
Deste amor torturado e sem ventura
Resta-me o alĂvio do arrependimento.
O pouco que me deste de ternura
NĂŁo vale o que te dei de encantamento.Abri para o teu sonho o firmamento,
Semeei de estrelas tua noite escura.
Dei-te alma, exaltação e sentimento.
Fiz de um bloco de pedra uma criatura.Hoje, ambos Ă mercĂȘ de sorte avessa,
Se para te esquecer luto e me esforço,
Manda-me o coração que nĂŁo te esqueça.Padecemos idĂȘntico suplĂcio:
Tu – corroĂda de pena e de remorso,
Eu – com vergonha do meu sacrifĂcio.
Enclausurada
Ă Monja dos estranhos sacrifĂcios,
Meu amor imortal, Ave de garras
E asas gloriosas, triunfais, bizarras,
Alquebradas ao peso dos cilĂcios.Reclusa flor que os mais revĂ©is flagĂcios
Abalaram com as trĂĄgicas fanfarras,
Quando em formas exĂłticas de jarras
Teu corpo tinha a embriaguez dos vĂcios.Para onde foste, Ăł graça das mulheres,
Graça viçosa dos vergéis de Ceres
Sem que o meu pensamento te persiga?!Por onde eternamente enclausuraste
Aquela ideal delicadeza de haste,
De esbelta e fina ateniense antiga?!
Quando, Senhora, Quis Amor Que Amasse
Quando, Senhora, quis Amor que amasse
essa grã perfeição e gentileza,
logo deu por sentença que a crueza
em vosso peito amor acrescentasse.Determinou que nada me apartasse,
nem desfavor cruel, nem aspereza;
mas que em minha rarĂssima firmeza
vossa isenção cruel se executasse.E, pois tendes aqui oferecida e
sta alma vossa a vosso sacrifĂcio,
acabai de fartar vossa vontade.NĂŁo lhe alargueis, Senhora, mais a vida;
acabarĂĄ morrendo em seu oficio,
sua fé defendendo e lealdade.
Trocou Finita Vida por Divina, Infinita e Clara Fama
â NĂŁo passes, caminhante! â Quem me chama?
â Uma memĂłria nova e nunca ouvida,
De um que trocou finita e humana vida
Por divina, infinita e clara fama.â Quem Ă© que tĂŁo gentil louvor derrama?
â Quem derramar seu sangue nĂŁo duvida
Por seguir a bandeira esclarecida
De um capitĂŁo de Cristo, que mais ama.â Ditoso fim, ditoso sacrifĂcio,
Que a Deus se fez e ao mundo juntamente!
Apregoando direi tĂŁo alta sorte.â Mais poderĂĄs contar a toda a gente
Que sempre deu na vida claro indĂcio
De vir a merecer tĂŁo santa morte.
Divina
Eu nĂŁo busco saber o inevitĂĄvel
Das espirais da tua vi matéria.
Não quero cogitar da paz funérea
Que envolve todo o ser inconsolĂĄvel.Bem sei que no teu circulo maleĂĄvel
De vida transitĂłria e mĂĄgoa seria
Hå manchas dessa orgùnica miséria
Do mundo contingente , imponderĂĄvel .Mas o que eu amo no teu ser obscuro
E o evangélico mistério puro
Do sacrifĂcio que te torna heroĂna.SĂŁo certos raios da tu’alma ansiosa
E certa luz misericordiosa,
E certa auréola que te fez divina!
Paira No AmbĂguo Destinar-Se
Paira no ambĂguo destinar-se
Entre longĂnquos precipĂcios,
A Ăąnsia de dar-se preste a dar-se
Na sombra vaga entre suplĂcios,Roda dolente do parar-se
Para, velados sacrifĂcios,
Não ter terraços sobre errar-se
Nem ilusĂ”es com interstĂcios,Tudo velado, e o Ăłcio a ter-se
De leque em leque, a aragem fina
Com consciĂȘncia de perder-se…Tamanha a flama e pequenina
Pensar na mĂĄgoa japonesa
Que ilude as sirtes da Certeza.
VĂłs Outros, Que Buscais Repouso Certo
VĂłs outros, que buscais repouso certo
na vida, com diversos exercĂcios;
a quem, vendo do mundo os benefĂcios,
o regimento seu estĂĄ encoberto;dedicai, se quereis, ao desconcerto
novas hontas e cegos sacrifĂcios;
que, por castigo igual de antigos vĂcios,
quer Deus que andem as cousas por acerto.NĂŁo caiu neste modo de castigo
quem pĂŽs culpa Ă Fortuna, quem sĂČmente
crĂȘ que acontecimentos hĂĄ no mundo.A grande experiĂȘncia Ă© grĂŁo perigo;
mas o que a Deus Ă© justo e evidente
parece injusto aos homens e profundo.