Sonetos sobre ExperiĂȘncia

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Sonetos de experiĂȘncia escritos por poetas consagrados, filĂłsofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Fraqueza

Espero-te… E sei bem que eu sĂł que te espero…
Aqui me tens… Constante e eterna Ă© a expectativa!
Por que hei de ser assim sempre ingĂȘnuo e sincero
por mais que experiĂȘncia eu tenha, e a vida eu viva?

ChegarĂĄs… e terĂĄs uma resposta esquiva
ao que te perguntar… E eu que tanto te quero
renderei novamente a minha alma cativa,
enquanto sorrirĂĄs feliz… e eu desespero…

HĂĄ um imenso poder nessa tua humildade,
e esse teu ar de mansa ternura e meiguice
estraçalha aos teus pĂ©s toda a minha vontade…

Que fazer? Hei de sempre perdoar o que fazes…
E se choras, nem sei… Esquecendo o que disse
sou eu que enxugo o pranto e ainda proponho as pazes!

Corro Após este Bem que não se Alcança

Oh como se me alonga de ano em ano
A peregrinação cansada minha!
Como se encurta, e como ao fim caminha
Este meu breve e vĂŁo discurso humano!

Minguando a idade vai, crescendo o dano;
Perdeu-se-me um remédio, que inda tinha;
Se por experiĂȘncia se adivinha,
Qualquer grande esperança é grande engano.

Corro após este bem que não se alcança;
No meio do caminho me falece;
Mil vezes caio, e perco a confiança.

Quando ele foge, eu tardo; e na tardança,
Se os olhos ergo a ver se inda aparece,
De vista se me perde, e da esperança.

Ordena Amor que Morra, e Pene Juntamente

Como fizeste, Ăł Porcia, tal ferida?
Foi voluntĂĄria, ou foi por inocĂȘncia?
É que Amor fazer sĂł quis experiĂȘncia
Se podia eu sofrer, tirar-me a vida?

E com teu prĂłprio sangue te convida
A que faças Ă  morte resistĂȘncia?
É que costume faço da paciĂȘncia,
Porque o temor morrer me nĂŁo impida.

Pois porque estĂĄs comendo com fogo ardente,
Se a ferro te costumas? É que ordena
Amor que morra, e pene juntamente.

E tens a dor do ferro por pequena?
Si, que a dor costumada nĂŁo se sente,
E nĂŁo quero eu a morte sem a pena.

LXXVII

Não hå no mundo fé, não hå lealdade;
Tudo Ă©, Ăł FĂĄbio, torpe hipocrisia;
Fingido trato, infame aleivosia
Rodeiam sempre a cĂąndida amizade.

Veste o engano o aspecto da verdade;
Porque melhor o vĂ­cio se avalia:
Porém do tempo a mísera porfia,
Duro fiscal, lhe mostra a falsidade.

Se talvez descobrir-se se procura
Esta de amor fantĂĄstica aparĂȘncia,
É como à luz do Sol a sombra escura:

Mas que muito, se mostra a experiĂȘncia,
Que da amizade a torre mais segura
Tem a base maior na dependĂȘncia!

O Futuro Perfeito

À minha neta Anica

A neta explora-me os dentes,
Penteia-me como quem carda.
Terra da sua experiĂȘncia,
Meu rosto diverte-a, parda
Imagem dada Ă  inocĂȘncia.

Finjo que lhe como os dedos,
Fura-me os olhos cansados,
Intima aos meus prĂłprios medos
Deixa-mos sossegados.

E tira, tira puxando
Coisas de mim, divertida.
Assim me vai transformando
Em tempo da sua vida.

Quem Quiser Ver D’amor Üa ExcelĂȘncia

Quem quiser ver d’Amor ĂŒa excelĂȘncia
onde sua fineza mais se apura,
atente onde me pÔe minha ventura,
por ter de minha fĂ© experiĂȘncia.

Onde lembranças mata a longa ausĂȘncia,
em temeroso mar, em guerra dura,
ali a saudade estĂĄ segura,
quando mor risco corre a paciĂȘncia.

Mas ponha me Fortuna e o duro Fado
em nojo, morte, dano e perdição,
ou em sublime e prĂłspera ventura;

Ponha me, enfim, em baixo ou alto estado;
que até na dura morte me acharão
na lĂ­ngua o nome, n’alma a vista pura.

Sorrio

Ah! vieste me falar de antigamente
desse tempo em que fui sentimental,
quando o amor era um sonho puro e ardente
vestido em vĂ©u de espumas, nupcial…

Quando me dava, perdulariamente,
vivendo o mal sem conhecer o mal,
a levar a alma inquieta de quem sente
e de quem busca uma conquista ideal…

Era sestro da idade essa existĂȘncia…
Sinal de pouca vida e muito sonho,
de muito sonho… e pouca experiĂȘncia…

Hoje, no entanto, se a pensar me ponho:
– sorrio… Um vĂŁo sorriso de indulgĂȘncia…
…Sinal de muita vida… e pouco sonho…

Como Fizeste, PĂłrcia, Tal Ferida?

Como fizeste, PĂłrcia, tal ferida?
Foi voluntĂĄria, ou foi por inocĂȘncia?
-Mas foi fazer Amor experiĂȘncia
se podia sofrer tirar me a vida.

-E com teu prĂłprio sangue te convida
a nĂŁo pores Ă  vida resistĂȘncia?
-Ando me acostumando Ă  paciĂȘncia,
porque o temor a morte nĂŁo impida.

-Pois porque comes, logo, fogo ardente,
se a ferro te costumas?-Porque ordena
Amor que morra e pene juntamente.

E tens a dor do ferro por pequena?
-Si: que a dor costumada nĂŁo se sente;
e eu nĂŁo quero a morte sem a pena.

Conversação Doméstica Afeiçoa

Conversação doméstica afeiçoa,
ora em forma de boa e sĂŁ vontade,
ora de ĂŒa amorosa piedade,
sem olhar qualidade de pessoa.

Se despois, porventura, vos magoa
com desamor e pouca lealdade,
logo vos faz mentira da verdade
o brando Amor, que tudo em si perdoa.

NĂŁo sĂŁo isto que falo conjecturas,
que o pensamento julga na aparĂȘncia,
por fazer delicadas escrituras.

Metido tenho a mĂŁo na consciĂȘncia,
e nĂŁo falo senĂŁo verdades puras
que me ensinou a viva experiĂȘncia.

Verdade, Amor, RazĂŁo, Merecimento

Verdade, Amor, RazĂŁo, Merecimento,
qualquer alma farĂŁo segura e forte;
porém, Fortuna, Caso, Tempo e Sorte,
tĂȘm do confuso mundo o regimento.

Efeitos mil revolve o pensamento
e nĂŁo sabe a que causa se reporte;
mas sabe que o que Ă© mais que vida e morte,
que não o alcança humano entendimento.

Doctos varÔes darão razÔes subidas,
mas sĂŁo experiĂȘncias mais provadas,
e por isso Ă© melhor ter muito visto.

Cousas hĂĄ i que passam sem ser criadas
e cousas criadas hĂĄ sem ser passadas,
mas o melhor de tudo Ă© crer em Cristo.

VĂłs Outros, Que Buscais Repouso Certo

VĂłs outros, que buscais repouso certo
na vida, com diversos exercĂ­cios;
a quem, vendo do mundo os benefĂ­cios,
o regimento seu estĂĄ encoberto;

dedicai, se quereis, ao desconcerto
novas hontas e cegos sacrifĂ­cios;
que, por castigo igual de antigos vĂ­cios,
quer Deus que andem as cousas por acerto.

NĂŁo caiu neste modo de castigo
quem pĂŽs culpa Ă  Fortuna, quem sĂČmente
crĂȘ que acontecimentos hĂĄ no mundo.

A grande experiĂȘncia Ă© grĂŁo perigo;
mas o que a Deus Ă© justo e evidente
parece injusto aos homens e profundo.

Amor Fero e Cruel, Fortuna Escura

GrĂŁo tempo hĂĄ jĂĄ que soube da Ventura
A vida que me tinha destinada,
Que a longa experiĂȘncia da passada
Me dava claro indĂ­cio da futura.

Amor fero e cruel, Fortuna escura,
Bem tendes vossa força exprimentada;
Assolai, destruĂ­, nĂŁo fique nada;
Vingai-vos desta vida, que inda dura.

Soube Amor da Ventura que a nĂŁo tinha,
E por que mais sentisse a falta dela,
De imagens impossĂ­veis me mantinha.

Mas vĂłs, Senhora, pois que minha estrela
NĂŁo foi melhor, vivei nesta alma minha,
Que nĂŁo tem a Fortuna poder nela.

Baby!

Baby! Sossega a tua voz. NĂŁo digas mais
Essas cançÔes do Mundo. Deixa que eu esqueço
Que fui menino ao colo de seus pais.
Deixa! Que o coração em si mesmo o adormeço…

Com olhos de criança olho os desiguais
Dias e nuvens, sĂłs, passando, e empalideço…
Canto de Prometeu todo desfeito em ais!
E a vida, a vida atĂ©, brinquedo que aborreço…

Mundo dos meus enganos como a desventura!
ExperiĂȘncia, – pobre fumo! Anela o meu cabelo
E pĂ”e-me o bibe azul e antigo da Ternura…

Que a vida, essa Babel desfeita que se embala,
ainda Ă© para mim – criança de Deus, pesadelo
Da infĂąncia das fanfarras, fogo de Bengala!

Oh! QuĂŁo Caro Me Custa O Entender Te

Oh! quĂŁo caro me custa o entender te,
molesto Amor, que, só por alcançar te,
de dor em dor me tens trazido a parte
onde em ti Ăłdio e ira se converte!

Cuidei que para em tudo conhecer te,
me nĂŁo faltasse experiĂȘncia e arte;
agora vejo n’alma acrescentar te
aquilo que era causa de perder te.

Estavas tĂŁo secreto no meu peito
que eu mesmo, que te tinha, nĂŁo sabia
que me senhoreavas deste jeito.

Descobriste t’agora; e foi por via
que teu descobrimento e meu defeito,
um me envergonha e outro m’injuria.