Sonetos sobre Vista de Manuel Maria Barbosa du Bocage

3 resultados
Sonetos de vista de Manuel Maria Barbosa du Bocage. Leia este e outros sonetos de Manuel Maria Barbosa du Bocage em Poetris.

Olhos Suaves, que em Suaves Dias

Olhos suaves, que em suaves dias
Vi nos meus tantas vezes empregados;
Vista, que sobra esta alma despedias
Deleitosos farpÔes, no céu forjados:

SantuĂĄrios de amor, luzes sombrias,
Olhos, olhos da cor de meus cuidados,
Que podeis inflamar as pedras frias,
Animar cadĂĄveres mirrados:

Troquei-vos pelos ventos, pelos mares,
Cuja verde arrogĂąncia as nuvens toca,
Cuja hrrĂ­sona voz perturba os ares:

Troquei-vos pelo mal, que me sufoca;
Troquei-vos pelos ais, pelos pesares:
Oh cĂąmbio triste! oh deplorĂĄvel troca!

És dos CĂ©us o Composto Mais Brilhante

Marília, nos teus olhos buliçosos
Os Amores gentis seu facho acendem;
A teus lĂĄbios, voando, os ares fendem
TernĂ­ssimos desejos sequiosos.

Teus cabelos subtis e luminosos
Mil vistas cegam, mil vontades prendem;
E em arte aos de Minerva se nĂŁo rendem
Teus alvos, curtos dedos melindrosos.

Reside em teus costumes a candura,
Mora a firmeza no teu peito amante,
A razĂŁo com teus risos se mistura.

És dos CĂ©us o composto mais brilhante;
Deram-se as mĂŁos Virtude e Formosura,
Para criar tua alma e teu semblante.

VisĂŁo Realizada

Sonhei que a mim correndo o gnĂ­deo nume
Vinha coa Morte, co CiĂșme ao lado,
E me bradava: “Escolhe, desgraçado,
Queres a Morte, ou queres o CiĂșme?”

“NĂŁo Ă© pior daquela fouce o gume
Que a ponta dos farpÔes que tens provado;
Mas o monstro voraz, por mim criado,
Quanto horror hĂĄ no Inferno em si resume.”

Disse; e eu dando um suspiro: “Ah, nĂŁo m’espantes
Coa a vista dessa fĂșria!… Amor, clemĂȘncia!
Antes mil mortes, mil infernos antes!”

Nisto acordei com dor, com impaciĂȘncia;
E nĂŁo vos encontrando, olhos brilhantes,
Vi que era a minha morte a vossa ausĂȘncia!