Sonetos sobre VĂ­timas de Manuel Maria Barbosa du Bocage

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Sonho

De suspirar em vão já fatigado,
Dando trégua a meus males eu dormia;
Eis que junto de mim sonhei que via
Da Morte o gesto lĂ­vido e mirrado:

Curva fouce no punho descarnado
Sustentava a cruel, e me dizia:
“Eu venho terminar tua agonia;
Morre, nĂŁo penes mais, Ăł desgraçado!”

Quis ferir-me, e de Amor foi atalhada,
Que armado de cruentos passadores
Aparece, e lhe diz com voz irada:

“Emprega noutro objecto teus rigores;
Que esta vida infeliz está guardada
Para vĂ­tima sĂł de meus furores.”

Importuna RazĂŁo, NĂŁo Me Persigas;

Importuna RazĂŁo, nĂŁo me persigas;
Cesse a rĂ­spida voz que em vĂŁo murmura;
Se a lei de Amor, se a força da ternura
Nem domas, nem contrastas, nem mitigas:

Se acusas os mortais, e os nĂŁo abrigas,
Se ( conhecendo o mal ) não dás a cura,
Deixa-me apreciar minha loucura,
Importuna RazĂŁo, nĂŁo me persigas.

É teu fim, teu projecto encher de pejo
Esta alma, frágil vítima daquela
Que, injusta e vária, noutros laços vejo:

Queres que fuja de MarĂ­lia bela,
Que a maldiga, a desdenhe; e o meu desejo
É carpir, delirar, morrer por ela.